Cientistas descobriram que bactérias ocultas sob o gelo do Oceano Ártico têm ajudado na nutrição de algas marinhas, essenciais para a cadeia alimentar dos mares. A pesquisa é a primeira a confirmar que seres vivos congelados ajudam a fixar nitrogênio, elemento essencial para as algas.
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O estudo liderado por pesquisadores da Universidade de Copenhague, na Dinamarca, foi publicado nesta quinta-feira (20/10) na revista científica Communications Earth & Environment. Outras instituições europeias também estiveram envolvidas nas investigações.
Mesmo vivendo sob o gelo, certas bactérias ajudam na fixação de nitrogênio – processo em que o gás dissolvido na água é transformado em amônio. Após a transformação, o elemento ajuda as bactérias a viver, nutre as algas e, consequentemente, os seres vivos que dependem delas também.
“Até agora, acreditava-se que a fixação de nitrogênio não poderia ocorrer sob o gelo marinho porque se presumia que as condições de vida dos organismos que realizam a fixação de nitrogênio eram muito precárias. Estávamos errados”, afirma a autora principal do estudo, Lisa W. von Friesen, da Universidade de Copenhague, em comunicado.
Derretimento do gelo ajuda no processo
Análises revelaram que grande parte da fixação de nitrogênio acontece na borda do gelo, local onde o derretimento é mais acentuado. Mesmo conseguindo sobreviver embaixo do gelo, o recuo da camada congelada causada pelas mudanças climáticas aumenta a disposição de nitrogênio no ecossistema.
De acordo com Lisa, as projeções subestimaram a quantidade de nitrogênio no Oceano Ártico. “Isso pode significar que o potencial de produção de algas também foi subestimado, à medida que as mudanças climáticas continuam a reduzir a cobertura de gelo marinho”, diz a pesquisadora.
O processo é um ciclo benéfico para ambos seres vivos: ao se alimentar da matéria orgânica dissolvida pelas algas, as bactérias liberam nitrogênio fixado, ajudando no crescimento da parceira.
“Para o clima e o meio ambiente, esta é provavelmente uma boa notícia. Se a produção de algas aumentar, o Oceano Ártico absorverá mais CO2, porque mais CO2 será retido na biomassa de algas. Mas os sistemas biológicos são muito complexos, por isso é difícil fazer previsões precisas, porque outros mecanismos podem puxar na direção oposta”, destaca um dos autores do estudo, Lasse Riemann, da Universidade de Copenhague.
Os pesquisadores ressaltam que a fixação de nitrogênio deve ser um fator considerado em projeções futuras sobre o Oceano Ártico. “Ainda não sabemos se o efeito líquido será benéfico para o clima. Mas está claro que devemos incluir um processo importante como a fixação de nitrogênio na equação quando tentarmos prever o que acontecerá com o Oceano Ártico nas próximas décadas, à medida que o gelo marinho diminuir”, finaliza Riemann.
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