Alerta climático: ONU admite que meta de 1,5°C não será alcançada

Em uma admissão que marca um momento crucial na luta contra as mudanças climáticas, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, declarou nesta quarta-feira que a meta de limitar o aquecimento global a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais não será alcançada. O anúncio foi feito durante reunião na Organização Meteorológica Mundial (OMM).

“Uma coisa já está clara: não conseguiremos conter o aquecimento global abaixo de 1,5°C nos próximos anos”, disse Guterres em uma reunião na Organização Meteorológica Mundial (OMM) da ONU, em Genebra, enfatizando que “ultrapassar o limite agora é inevitável”, declarou.

Visita do Secretário-Geral das Nações Unidas à Organização Meteorológica Mundial
OMM / Mélissa Debray

Aquecimento global fora de controle

O limite de 1,5°C foi estabelecido como um “limite seguro” para evitar os efeitos mais catastróficos das mudanças climáticas. No entanto, dados do observatório europeu Copernicus revelam que a temperatura média global já atingiu 1,4°C acima dos níveis pré-industriais, com 2024 registrando aquecimento de 1,6°C — indicando que o planeta já está experimentando temporariamente o que seria considerado um “mundo pós-1,5°C”.

Alertando que as mudanças climáticas estão levando “nosso planeta à beira do abismo”, Guterres instou os governos a apresentarem “planos nacionais de ação climática novos e ousados” antes da COP30 em Belém, que ocorrerá de 10 a 21 de novembro.

Estabelecido como consenso científico e diplomático em 2015, o limite de 1,5°C representava a fronteira para evitar os impactos mais devastadores das mudanças climáticas. Relatórios do IPCC demonstraram que mesmo com esse nível de aquecimento, o planeta enfrentaria perdas significativas, mas que esses efeitos seriam drasticamente piores com 2°C ou mais.

Aquecimento global (Imagem: Shutterstock)

Sistema de alerta contra desastres

No evento, o secretário-geral da ONU dirigiu-se pela primeira vez à OMM, classificando a agência como “um barômetro da verdade” em meio à crise climática global. Durante o congresso que celebra as sete décadas e meia de atuação da OMM, Guterres ainda enfatizou a necessidade de expandir urgentemente os sistemas de alerta precoce para proteger populações vulneráveis e economias nacionais.

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“Sem a modelagem rigorosa e a previsão da OMM, não saberíamos o que nos espera — ou como nos preparar”, declarou Guterres a uma plateia lotada, composta por representantes dos 193 Estados-membros da organização. “Sem seu monitoramento de longo prazo, não teríamos os avisos que protegem comunidades e salvam milhões de vidas e bilhões de dólares anualmente”.

(Imagem: austinding/Shutterstock)

O discurso reforçou a Iniciativa de Alertas Antecipados para Todos, lançada por Guterres em 2022, que tem como meta garantir que toda a população mundial esteja coberta por sistemas de alerta contra desastres naturais até o final de 2027. A secretária-geral da OMM, Celeste Saulo, respondeu com um “Apelo à Ação”, pedindo esforços redobrados para preencher lacunas críticas, especialmente em países em desenvolvimento.

“Encontramo-nos em um momento em que nossa missão nunca foi tão urgente”, afirmou Saulo. “Precisamos ampliar alertas multirriscos, fortalecer serviços meteorológicos nacionais, expandir redes de observação e assegurar que ninguém seja deixado para trás”.

Dados apresentados no congresso ilustram avanços significativos: em 2024, 108 países relataram possuir sistemas de alerta precoce para múltiplos riscos, mais que o dobro dos 52 registrados em 2015. No entanto, mortalidade por desastres é seis vezes maior em nações com sistemas limitados de alerta.

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