Enquanto a inteligência artificial impulsiona uma nova corrida global por capacidade de processamento, os data centers enfrentam um obstáculo inconveniente: falta de energia. Nos Estados Unidos, desenvolvedores estão recorrendo a uma solução um pouco diferente: reaproveitar motores de aviões aposentados como geradores para manter suas operações ativas.
A prática ganhou força após longos atrasos na entrega de novas turbinas a gás e gargalos na conexão com a rede elétrica. Segundo reportagem da Interesting Engineering, empresas como a americana ProEnergy estão transformando motores de jato, como o CF6-80C2 usado no Boeing 747, em turbinas capazes de gerar até 48 megawatts, energia suficiente para abastecer uma pequena cidade.
Motores de avião como solução para o boom da IA
Escassez de turbinas a gás e lentidão nas conexões elétricas levaram o setor a buscar alternativas imediatas.
Motores reaproveitados podem alimentar data centers enquanto aguardam ligação à rede principal.
Cada unidade adaptada gera energia para dezenas de milhares de residências.
A ProEnergy já forneceu 21 turbinas para dois grandes projetos, somando mais de 1 gigawatt.
Como antigos motores de jato ganham uma segunda vida
A reutilização desses motores, conhecidos como turbinas aeroderivadas, não é nova, mas agora se tornou essencial. O processo envolve desmontar, limpar e revisar milhares de peças dos motores de aviação, adaptando-as para funcionar de forma contínua em solo.
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Essas turbinas têm vantagens sobre as industriais pesadas: são menores, mais leves e podem entrar em operação em apenas cinco minutos. Além disso, podem ser trocadas em até 72 horas para manutenção, algo impossível com equipamentos convencionais.
De acordo com Landon Tessmer, vice-presidente de operações comerciais da ProEnergy, “os projetos atuais fornecem energia de transição por cinco a sete anos, até que os centros consigam conexão estável com a rede”.
O executivo explica que as unidades também estão sendo usadas para manter obras e fases iniciais de operação de novos data centers, num momento em que o tempo de espera por turbinas tradicionais a gás já ultrapassa 2029. Hoje, os prazos de entrega de novas turbinas a gás de fabricantes como GE, Vernova e Siemens Energy variam entre três e cinco anos.
As emissões dessas turbinas reaproveitadas são muito baixas, cerca de 2,5 partes por milhão de óxidos de nitrogênio, bem abaixo dos limites da Agência de Proteção Ambiental (EPA), que variam de 10 a 25 ppm.
O impacto prático e o desafio de longo prazo
Especialistas alertam que o uso desses motores é uma solução temporária, um “ponto de apoio” até que a infraestrutura elétrica e as fontes renováveis consigam acompanhar o ritmo do avanço da IA. Ainda assim, o reaproveitamento evita que grandes centros de dados – e, por consequência, serviços digitais críticos – fiquem paralisados.
O impacto pode parecer distante, mas é mais próximo do que parece. Plataformas de streaming, sistemas de saúde digital e até redes de emergência dependem de data centers estáveis para funcionar. E, com a corrida das IAs, esses sistemas estão sobrecarregados e precisando de tecnologia para expandir.
E vale lembrar que os data centers consomem não só energia, mas também grandes quantidades de água para resfriar os servidores que mantêm a nuvem ativa. Ou seja, o reaproveitamento dos motores de avião, é uma solução apenas parcial; um remendo para um desafio que é estrutural.
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