Respirar é algo tão natural que quase nunca paramos para pensar se estamos fazendo certo. No entanto, para quem pratica atividade física — seja um atleta profissional, um corredor de fim de semana ou alguém que apenas quer manter o corpo ativo — a forma como se respira pode ser determinante para o desempenho, a resistência e até para a prevenção de lesões.
Durante os treinos, é comum observar pessoas respirando pela boca com a intenção de “puxar mais ar”. À primeira vista, parece lógico: quanto mais ar entra, melhor o rendimento. Mas o efeito é exatamente o oposto.
Quando a respiração não é correta, o diafragma — músculo responsável por expandir os pulmões — acaba sobrecarregado. Isso pode causar câimbras e dores na lateral do abdômen, além de comprometer o controle respiratório e o fluxo de oxigênio nos músculos.
Além da dor e do desconforto, o hábito de respirar pela boca pode trazer prejuízos a longo prazo. Na adolescência, por exemplo, esse padrão pode interferir no desenvolvimento facial, levando a alterações como mordida aberta ou cruzada.
O papel do nariz: filtro natural e regulador térmico
O nariz não é apenas uma via de passagem do ar — ele tem funções fundamentais. Ao inspirar pelo nariz, o ar entra filtrado, aquecido e umidificado, o que protege as vias respiratórias e melhora a eficiência do oxigênio que chega aos pulmões.
O ar ambiente pode estar entre 15 e 27 °C. Quando passa pelo nariz, chega aos pulmões a cerca de 36,5 °C e com o nível ideal de umidade. Já quando respiramos pela boca, o ar entra frio e seco, o que pode irritar as mucosas e reduzir a oxigenação.
Em atividades intensas, o corpo exige uma ventilação maior, e o nariz, sozinho, às vezes não dá conta. É por isso que muitos atletas — especialmente durante partidas ou treinos de alta performance — acabam abrindo a boca para complementar a respiração. Ainda assim, o ideal é que isso seja exceção, não regra.
Quem tem obstruções nasais, como desvio de septo ou rinite não tratada, tende a recorrer mais à respiração bucal e isso compromete o desempenho esportivo.
Respiração, foco e metabolismo
A respiração correta também influencia o foco e o metabolismo. Quando inspiramos adequadamente, o oxigênio chega de forma mais eficiente às células, melhorando a capacidade de concentração e a resistência física.
Treinos bem orientados e realizados pelo menos três vezes por semana, com intensidade adequada, aumentam o metabolismo basal — a quantidade de calorias que o corpo queima para manter suas funções vitais — e ajudam na redução do percentual de gordura corporal.
Respirar bem é muito mais do que encher os pulmões: é coordenar corpo e mente para alcançar o melhor desempenho possível. O treino começa pelo ar que entra — e o caminho certo é pelo nariz.
Dr. Bruno Borges de Carvalho Barros
Médico otorrinolaringologista pela UNIFESP
Médico do corpo clínico do hospital Albert Einstein
Especialista em otorrinolaringologia pela Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e cirurgia cervico-facial.
Mestre e fellow pela Universidade Federal de São Paulo.
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