A obesidade é um dos principais fatores de risco para o diagnóstico de esteatose hepática, doença conhecida como gordura no fígado. Mas isso não significa que pessoas magras não possam desenvolver a condição.
O quadro é conhecido na medicina como doença hepática esteatósica associada a disfunção metabólica em indivíduos magros. A hepatologista Lisa Saud, do Hospital Nove de Julho, explica que esses pacientes apresentam o mesmo tipo de alteração metabólica observada em quem tem sobrepeso.
“Mesmo em pessoas com peso normal, podem existir mecanismos genéticos e metabólicos que favorecem o acúmulo de gordura nas células do fígado. Também é importante descartar outras causas, como o consumo de álcool e hepatites virais”, afirma a médica.
O que é gordura no fígado?
Popularmente chamada de gordura no fígado, a esteatose hepática acontece quando as células do órgão acumulam gordura em excesso.
Nos estágios iniciais, a condição costuma ser silenciosa e não apresenta sintomas evidentes.
À medida que progride, porém, podem surgir dores na parte superior direita do abdômen, cansaço, fraqueza, perda de apetite, aumento do fígado, inchaço na barriga, dor de cabeça frequente e dificuldade para perder peso.
As principais causas estão relacionadas à obesidade, diabetes, colesterol alto e consumo excessivo de álcool.
A doença é mais comum em mulheres sedentárias, já que o hormônio estrogênio favorece o acúmulo de gordura no fígado. Ainda assim, pessoas magras, que não bebem, e até crianças também podem desenvolver a condição.
Metabolismo e genética como gatilhos
A médica Natália Trevizoli, gastro-hepatologista do Hospital Santa Lúcia e do Sírio-Libanês, explica que o excesso de gordura hepática não depende apenas do índice de massa corporal.
“Fatores genéticos, hormonais e metabólicos influenciam diretamente a forma como o organismo processa e armazena lipídios”, diz.
Entre os principais gatilhos estão a resistência à insulina, a alimentação rica em açúcares simples e ultraprocessados, o sono irregular e o sedentarismo. Além disso, alterações genéticas, como mutações no gene PNPLA3, aumentam a susceptibilidade à doença mesmo na ausência de obesidade.
Lisa acrescenta que, em muitos casos, há acúmulo de gordura visceral, ou seja, entre os órgãos internos, sem grande aumento de gordura subcutânea. “É o paciente que parece magro, mas tem uma inflamação sistêmica associada a desequilíbrios metabólicos”, esclarece.
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Risco igual e diagnóstico mais difícil
As especialistas alertam que o fígado gorduroso em pessoas magras pode evoluir com a mesma gravidade observada em pacientes obesos.
“Esses casos podem progredir para fibrose e até cirrose hepática. O problema é que, por não apresentarem sobrepeso, muitos acabam não sendo rastreados precocemente”, aponta Lisa.
O diagnóstico costuma ser acidental, identificado em exames de rotina ou de imagem. Alterações nas enzimas hepáticas (TGO e TGP) e achados de esteatose na ultrassonografia do abdômen são os primeiros sinais de alerta.
Segundo Natália, um dos exames mais úteis para avaliação é a elastografia hepática, também conhecida como FibroScan. “Ela mede, de forma não invasiva, a rigidez do fígado — um marcador de fibrose — e também quantifica a gordura hepática. É uma ferramenta essencial para identificar quem tem risco de evolução para formas mais graves da doença”, detalha.
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A esteatose hepática é popularmente conhecida como gordura no fígado
Mohammed Haneefa Nizamudeen/Getty Images2 de 4
A condição de gordura no fígado acomete 30% da população mundial
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Alterações na função hepática podem provocar distúrbios do sono, como insônia, sonolência diurna e ciclos de descanso irregulares
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No início, as manifestações costumam ser inespecíficas, como cansaço, fraqueza, perda de apetite, náuseas, sensação de inchaço abdominal ou desconforto do lado direito do abdome
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Tratamento
Diferentemente de outros quadros, o tratamento do fígado gorduroso em pessoas magras não tem foco na balança, mas sim no metabolismo. “O objetivo é melhorar a qualidade metabólica e reduzir a inflamação sistêmica”, diz Lisa.
Entre as recomendações estão ajuste alimentar, atividade física regular e controle de condições associadas, como resistência à insulina e hipertensão arterial.
Além disso, mudanças simples de estilo de vida, como reduzir o consumo de açúcares, ultraprocessados e álcool, manter sono adequado e praticar exercícios, podem reverter boa parte dos casos.
Em situações específicas, o tratamento pode incluir medicamentos, como a pioglitazona, a vitamina E ou os agonistas do receptor GLP-1, como a semaglutida. “Essas terapias só devem ser indicadas por especialistas e sempre associadas a mudanças de hábito”, reforça Natália.
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