Uso prolongado de anticoncepcional pode atrapalhar a gravidez futura?

O anticoncepcional oral, além de prevenir a gravidez, trouxe benefícios como o controle de ciclos menstruais e melhora de sintomas hormonais. Mas, quando o assunto é engravidar, cresce a dúvida: o uso prolongado do método pode comprometer a fertilidade a longo prazo?

Segundo o endocrinologista e especialista em reprodução assistida Álvaro Petracco, presidente da Associação Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA), a resposta é não. O anticoncepcional não causa infertilidade nem reduz a reserva ovariana — ele apenas interrompe temporariamente o funcionamento dos ovários.

“Durante o uso contínuo, os ovários entram em repouso funcional, ou seja, deixam de ovular por efeito direto dos hormônios administrados”, explica o médico.

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Após a suspensão do método, o organismo costuma levar de dois a três meses para retomar o ciclo natural. Nesse período, o equilíbrio hormonal se restabelece e os ovários voltam a liberar óvulos normalmente. O tempo pode variar conforme o tipo de anticoncepcional e o histórico de cada mulher, mas, na maioria dos casos, a fertilidade retorna sem grandes alterações.

O ginecologista e especialista em reprodução humana Adelino Amaral reforça que não há evidências científicas de que o uso prolongado comprometa a capacidade de engravidar.

“A maioria das mulheres volta a ovular em poucas semanas. Quando há dificuldade para engravidar, geralmente o problema já existia antes, mas só se torna perceptível após a suspensão do método”, diz.
Segundo os especialistas, após a pausa do anticoncepcional, a mulher pode sofrer ansiedade enquanto tenta engravidar

Idade é fator determinante

O que realmente afeta a fertilidade é o tempo, e não o anticoncepcional em si. Com o passar dos anos, a reserva e a qualidade dos óvulos diminuem naturalmente — processo que se acentua a partir dos 35 anos.

Petracco explica que muitas mulheres atribuem ao uso da pílula a dificuldade de engravidar, quando, na verdade, a causa está no envelhecimento ovariano. Além disso, condições como endometriose, síndrome dos ovários policísticos (SOP) e obstrução das trompas podem afetar a fertilidade, e o uso de anticoncepcionais pode “mascarar” sintomas dessas doenças.

O ciclo regular induzido pelo hormônio faz parecer que tudo está bem, quando na verdade a mulher pode ter um distúrbio pré-existente. Por isso, ao interromper o uso do anticoncepcional, é comum que o diagnóstico dessas condições surja pela primeira vez.

Recuperação após a pausa

Em geral, o retorno à fertilidade é rápido, mas há exceções. O uso do anticoncepcional injetável à base de medroxiprogesterona, por exemplo, pode atrasar a ovulação por até um ano. Já métodos como DIU hormonal, pílula e implante tendem a permitir uma recuperação mais imediata.

Durante a pausa, sinais como menstruação regular, presença de muco cervical transparente e cólicas menstruais indicam que o corpo voltou ao ritmo natural. Caso o ciclo permaneça irregular por mais de três meses, é recomendável procurar o ginecologista.

Exames e acompanhamento

Para avaliar a fertilidade após o uso prolongado do anticoncepcional, os especialistas orientam suspender o método e aguardar de dois a três ciclos antes de realizar exames como a dosagem do hormônio antimülleriano e a contagem de folículos antrais. Os testes ajudam a medir a reserva ovariana e são mais precisos quando o sistema reprodutivo já está em seu funcionamento natural.

A recomendação de acompanhamento também varia conforme a idade. Amaral destaca que mulheres com menos de 35 anos podem tentar engravidar naturalmente por até um ano antes de procurar um especialista. Já as acima dos 35 devem buscar avaliação médica após seis meses de tentativas sem sucesso.

Os médicos concordam que o anticoncepcional foi um avanço importante para o controle reprodutivo, mas reforçam a importância do uso consciente. Petracco conclui: “O anticoncepcional permite planejar o melhor momento para engravidar. Mas o acompanhamento periódico da função reprodutiva é essencial para que a maternidade aconteça de forma segura e informada.”

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