Um artigo disponível no servidor de pré-impressão arXiv, onde aguarda revisão de pares para publicação, revela que o cometa interestelar 3I/ATLAS mudou de cor pela segunda vez e está apresentando evidências de uma aceleração provocada por outros fatores além da gravidade.
O 3I/ATLAS é o terceiro objeto interestelar confirmado a passar pelo Sistema Solar, depois do asteroide 1I/‘Oumuamua e o cometa 2I/Borisov. Ele foi detectado em 1º de julho por astrônomos do Sistema de Último Alerta para Impacto de Asteroides com a Terra (ATLAS, na sigla em inglês), financiado pela NASA, que monitora corpos celestes que possam representar risco de colisão com o nosso planeta.
Desde então, o “forasteiro” vem sendo monitorado constantemente, tendo em vista que ele pode ser uma verdadeira cápsula do tempo, preservando material que remonta a muitos bilhões de anos – um vestígio de como era o ambiente nas primeiras eras do Universo. Entender a composição desse objeto pode ajudar a revelar de que parte da galáxia e em quais condições ele se formou.
Uma imagem profunda do cometa interestelar 3I/ATLAS capturada pelo Espectrógrafo Multiobjeto Gemini (GMOS) no Telescópio Gemini Sul. Crédito: Observatório Internacional Gemini/NOIRLab/NSF/AURA. Processamento de imagens Shadow the Scientist: J. Miller e M. Rodriguez (Observatório Internacional Gemini/NSF NOIRLab), TA Rector (Universidade do Alasca Anchorage/NSF NOIRLab), M. Zamani (NSF NOIRLab)
Em resumo:
O cometa interestelar 3I/ATLAS mudou de cor e apresentou aceleração extra;
Astrônomos observaram aumento súbito de brilho e aspecto mais azul que o Sol;
A ejeção de gases e poeira deve causar perda de massa e produzir uma pluma;
A missão JUICE pode investigar a pluma de gás nas próximas semanas;
O objeto pode revelar pistas sobre cometas e a origem do Universo.
Enquanto se dirigia para a aproximação máxima com o Sol (periélio), atingida dia 29 de outubro, o cometa ficou invisível para a Terra por estar passando atrás da estrela. Nesse período, o astrônomo Avi Loeb, da Universidade de Harvard, EUA, voltou a levantar uma hipótese ousada sugerida por ele outras vezes: que o 3I/ATLAS pode ser uma sonda alienígena disfarçada. A sugestão repercutiu, mas foi amplamente descartada pela comunidade científica, inclusive por especialistas da NASA e do programa SETI, que busca sinais de vida inteligente no espaço.
Astrônomo amador encontrou o cometa interestelar 3I/ATLAS a caminho do Sol em imagens diárias do coronógrafo CCOR-1, do satélite GOES-19. Crédito: CCOR-1/GOES-19/NOAA Processamento: Worachate Boonplod
Cometa fica mais azulado
Usando o Observatório de Relações Solar-Terrestre (STEREO), da NASA, o Observatório Solar e Heliosférico (SOHO), uma colaboração entre as agências espaciais norte-americana e europeia (ESA), e o satélite meteorológico GOES-19, da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA (NOAA), os autores do novo estudo conseguiram observar o 3I/ATLAS pouco antes de alcançar o periélio.
As observações mostraram que o cometa mudou de cor, ficando mais azul em relação ao Sol, e também teve um aumento rápido e intenso de brilho. Segundo a equipe, ele atingiu magnitude 9, o que o torna visível com telescópios pequenos e até binóculos de boa qualidade.
As imagens mostram o cometa 3I/ATLAS observado por diferentes instrumentos espaciais. À esquerda, ele é comparado a uma estrela próxima; à direita, aparece sob vários filtros. Todas as imagens estão alinhadas com o norte para cima, e as setas indicam sua velocidade e direção em relação ao Sol. Crédito: Zhang, Q. & Battams, K.
Esse aumento repentino de brilho, segundo os cientistas, foi muito mais forte do que o observado em cometas comuns vindos da Nuvem de Oort, a região mais distante do Sistema Solar. Ainda não há uma explicação definitiva, mas a mudança de cor indica transformações químicas na superfície do cometa conforme ele se aquece e libera gases.
Enquanto isso, segundo o site IFLScience, o engenheiro de navegação Davide Farnocchia, do Laboratório de Propulsão a Jato (JPL), da NASA, relatou que o 3I/ATLAS está acelerando de forma que não pode ser explicada apenas pela gravidade. Essa “aceleração não gravitacional” foi medida a cerca de 203 milhões de km de distância da estrela.
Em seu blog, Loeb disse que essa aceleração é provavelmente resultado da ejeção de gases e poeira do núcleo do cometa, um processo comum quando o calor solar vaporiza seu gelo interno. Ao liberar material em alta velocidade, o cometa perde massa e cria um empuxo, funcionando como um pequeno foguete natural. Os cálculos indicam que, nesse ritmo, o 3I/ATLAS pode perder até um décimo de sua massa total em poucos meses.
Essa perda de material deve produzir uma pluma de gás bastante visível entre este e o próximo mês. A sonda JUICE, da Agência Espacial Europeia (ESA), vai passar novembro investigando o objeto, podendo detectar esses sinais. Para os pesquisadores, essa é uma oportunidade única de observar em tempo real o comportamento de um cometa interestelar enquanto ele interage com o Sol.
Representação artística da sonda JUICE, lançada pela Europa para investigar três luas de Júpiter, sendo usada para observar o cometa interestelar 3I/ATLAS após passagem próxima do Sol. Crédito: Imagem gerada por IA/Gemini
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O motivo do aumento tão rápido de brilho é desconhecido. Uma hipótese sugere que o gelo de dióxido de carbono (CO₂) tenha sublimado antes da água, resfriando o cometa e retardando a liberação de vapor d’água. Esse desequilíbrio químico pode ter criado uma reação em cadeia que intensificou o brilho de forma anormal.
Agora, os astrônomos esperam o 3I/ATLAS ficar visível novamente, o que está previsto para começar a acontecer esta semana. Os autores do novo artigo acreditam que ele estará ainda mais brilhante do que quando desapareceu atrás do Sol, possivelmente devido à liberação intensa de gases. Mas, o que vai ocorrer, de fato, é imprevisível: o brilho pode continuar aumentando, estabilizar ou cair rapidamente, dependendo de como o núcleo do cometa reagiu ao calor solar.
Mesmo sem respostas definitivas, o 3I/ATLAS já se tornou um dos objetos mais intrigantes da astronomia moderna. Cada novo dado sobre ele oferece pistas valiosas sobre os processos que moldam cometas além do nosso Sistema Solar – e sobre como o próprio Universo evoluiu desde os primeiros dias.
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