Uma das primeiras coisas que notamos em um bebê recém-nascido: a ausência completa de dentes. Eles chegam ao mundo com bracinhos, pernas, costelas e um crânio (ainda que mole em alguns pontos), mas a boca é “banguela”. Isso levanta uma questão biológica fascinante: por que nossos ossos parecem estar “prontos” ao nascer, enquanto os dentes decidem chegar com meses de atraso?
A resposta, como quase tudo na biologia, é uma mistura de praticidade, evolução e um cronograma de desenvolvimento perfeitamente orquestrado. Mas, antes de tudo, precisamos corrigir duas premissas muito comuns que, na verdade, não são bem assim.
Por que os bebês nascem sem dentes, mas com outros ossos já (quase) formados?
Aqui estão os “spoilers” científicos: primeiro, os bebês já nascem com dentes, eles apenas estão escondidos. Segundo, o esqueleto deles não está totalmente formado; está mais para uma “obra em andamento”.
Vamos desvendar esses dois mistérios.
O esqueleto “em obras” dos bebês
Ao contrário da crença popular, um bebê não nasce com um esqueleto adulto em miniatura. Na verdade, um recém-nascido tem cerca de 300 “ossos”, um número bem maior que os 206 de um adulto.
A palavra “ossos” vem entre aspas porque muito desse esqueleto é, na verdade, cartilagem flexível. Esse material mais macio é uma vantagem evolutiva crucial. Ele permite que o bebê se “comprima” e navegue pelo canal de parto de forma mais segura.
É por isso que o crânio do bebê tem as famosas “moleiras” (fontanelas): são espaços entre placas ósseas ainda não fundidas que permitem que a cabeça mude de forma durante o nascimento.
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Ao longo dos primeiros anos de vida, essa cartilagem vai se ossificando (um processo chamado ossificação endocondral) e muitos desses 300 ossos vão se fundir para formar as estruturas maiores e mais rígidas que conhecemos. Portanto, o esqueleto não está “pronto”; ele está em um estado perfeitamente adaptado para o nascimento e para o crescimento rápido.
Os dentes estão “invisíveis” quando o bebê nasce
Agora, vamos aos dentes. A ideia de que nascemos “sem” eles também é incorreta. A sua premissa estava certa: eles “estão por lá”.
O desenvolvimento dos dentes começa muito cedo na gestação. Estudos sobre o desenvolvimento fetal mostram que os “germes dentários” (as estruturas que darão origem aos dentes de leite) começam a se formar por volta da 6ª semana de gravidez. O esmalte, a camada dura do dente, começa a se mineralizar por volta do quarto mês.
Isso significa que, ao nascer, o bebê já tem, dentro da mandíbula e da maxila, os conjuntos completos dos 20 dentes de leite, e até mesmo os germes de alguns dentes permanentes.
Então, por que eles não saem?
A dieta líquida: a principal função dos dentes é mastigar. Recém-nascidos têm uma dieta exclusivamente líquida (leite materno ou fórmula). Dentes seriam, biologicamente falando, inúteis nos primeiros meses.
A amamentação: a razão evolutiva mais forte, no entanto, é a amamentação. Dentes afiados e pontiagudos poderiam causar dor e ferimentos na mãe, tornando a amamentação um processo difícil ou até mesmo inviável. A seleção natural favoreceu um cronograma onde os dentes só irrompem quando a dieta do bebê começa a mudar.
Espaço e crescimento: a mandíbula do bebê é pequena. Os dentes irrompem gradualmente, geralmente começando por volta dos 6 meses (um processo chamado erupção dentária), acompanhando o crescimento facial da criança.
A exceção: os dentes natais
A biologia adora exceções. Por isso, nunca podemos dizer que todos nascem sem dentes visíveis, mas o oposto é raro.
Em casos incomuns, cerca de 1 em cada 2.000 a 3.000 bebês, a criança pode nascer com um ou dois dentes já visíveis. São os chamados “dentes natais”.
Esses dentes costumam ser diferentes dos dentes de leite normais. Frequentemente, eles têm raízes fracas ou inexistentes e são mais “moles”, pois não se desenvolveram completamente. Dependendo do caso, se estiverem muito soltos (com risco de o bebê engolir) ou se atrapalharem a amamentação, o pediatra ou odontopediatra pode recomendar a extração.
Não é que nascemos com ossos e sem dentes. Nascemos com um esqueleto flexível e “em obras” e com um conjunto completo de dentes “na espera”. É um sistema perfeitamente cronometrado para garantir um nascimento seguro e uma alimentação eficaz nos primeiros meses de vida.
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