A disputa comercial entre China e Holanda acendeu um alerta no setor automotivo mundial. Uma briga em torno da fabricante de semicondutores Nexperia, controlada por uma empresa chinesa, levou Pequim a suspender exportações de chips e obrigou montadoras de vários países a reduzir o ritmo de produção.
Como apontou o New York Times (NYT), o impasse expôs a dependência global de um componente minúsculo, mas essencial para fazer funcionar motores, freios e sistemas eletrônicos de veículos modernos.
No Brasil, o impacto poderia ter sido direto. A Nexperia é a principal fornecedora dos chips usados em carros flex produzidos no país. Mas, diante do risco de desabastecimento, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) negociou com o governo chinês para garantir o envio dos componentes.
O acordo afastou o perigo imediato de paralisação nas montadoras, mas deixou claro o quanto o setor ainda está suscetível às tensões geopolíticas do outro lado do mundo.
A disputa por uma fábrica na Holanda que desencadeou uma crise de chips para carros
A nova crise começou na Europa. O governo da Holanda interveio na Nexperia, fabricante de chips com sede no país e controlada pela chinesa Wingtech, alegando “razões de segurança econômica”.
Autoridades holandesas temiam que a produção de semicondutores fosse transferida para a China. A medida, porém, provocou forte reação de Pequim, que suspendeu temporariamente as exportações de chips, o que paralisou parte da cadeia global de fornecimento.
Segundo o NYT, a decisão pegou o setor automotivo de surpresa e forçou montadoras em todo o mundo a rever planos de produção.
Especialistas ouvidos pelo jornal, como Chris Miller, autor do livro Chip War, alertam que o impasse pode reduzir a produção global de veículos se não houver acordo nas próximas semanas.
A disputa também envolveu os Estados Unidos, que pressionaram o governo holandês por preocupações geopolíticas. O resultado foi um novo capítulo na chamada “guerra dos chips”, conflito que vai além da economia: mostra como a tecnologia virou peça central nas disputas de poder entre grandes potências do mundo.
Montadoras correm para reorganizar cadeias e evitar paralisações
Com a suspensão das exportações chinesas, grandes montadoras (Mercedes-Benz, Stellantis, Nissan, Bosch) começaram a reduzir a produção e a buscar alternativas para não parar completamente as fábricas.
A Nexperia é responsável por milhares de chips básicos usados não só em carros, mas também em eletrodomésticos, radares e equipamentos militares. Por isso, o impacto da crise se espalhou rapidamente por outros setores.
Segundo a analista Antonia Hmaidi, do Instituto Mercator de Estudos sobre a China, reorganizar a cadeia produtiva levaria ao menos quatro a seis meses. Isso porque a empresa depende de etapas de fabricação e empacotamento feitas principalmente na China.
O CEO da Mercedes-Benz, Ola Källenius, afirmou que o impasse é fruto direto das tensões entre governos, não de falhas industriais. A crise expõe a falta de alternativas fora da Ásia e reforça a necessidade de diversificar as cadeias de suprimentos, de acordo com o jornal.
Brasil negociou com a China para garantir fornecimento de chips e evitar crise local
No Brasil, o alerta veio da Anfavea, associação que representa as montadoras. Diante da possibilidade de faltar chips, o vice-presidente e ministro da Indústria, Geraldo Alckmin, acionou a diplomacia e pediu prioridade ao embaixador chinês Zhu Qingqiao.
O pedido foi atendido. Pequim se comprometeu a manter o envio de semicondutores ao país, garantindo a produção de carros flex – que dependem diretamente dos componentes da Nexperia.
A negociação foi rápida e evitou que o setor automotivo brasileiro revivesse o cenário de 2021, quando a escassez global de chips paralisou linhas de montagem.
O acordo foi recebido como um alívio temporário. Montadoras como Volkswagen e Stellantis confirmaram que seguem operando normalmente, mas em estado de alerta.
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Para o presidente da Anfavea, Igor Calvet, a ação do governo impediu um colapso imediato, mas a dependência internacional segue como um ponto vulnerável.
Enquanto o impasse entre China e Holanda permanece sem solução definitiva, a indústria brasileira continua produzindo, mas consciente de que qualquer novo desentendimento lá fora pode, de novo, parar fábricas aqui.
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