Pedra do Destino: enfim sabemos o que aconteceu após o roubo de 1950

Na manhã de Natal de 1950, um grupo de estudantes nacionalistas escoceses furtou a famosa Pedra do Destino da Abadia de Westminster, em Londres. No meio do caminho, o antigo artefato partiu-se em dois ao ser derrubado no chão. Por anos, o destino de pequenos fragmentos criados durante o seu reparo ficou desconhecido. Até agora.

Uma nova pesquisa liderada pela Universidade de Stirling, na Escócia, analisou pedaços deixados por uma restauração conduzida pelo escultor de monumentos e político liberal Robert Gray — que teria incentivado o roubo — antes de a pedra ser devolvida para as autoridades na Abadia de Arbroath, em abril de 1951 (por decisão dos próprios envolvidos).

Gray numerou e selecionou cuidadosamente 34 fragmentos e os presenteou, juntamente com outros fragmentos não numerados, a membros da família, amigos políticos de confiança, jornalistas, tanto no país quanto no exterior, geralmente acompanhados de uma carta confirmando sua autenticidade. Os fragmentos foram transmitidos entre gerações como preciosas relíquias de família, alguns encapsulados em joias.

Fragmento doado ao Partido Nacional Escocês (Imagem: SNP)

Importância histórica

As origens mais remotas da Pedra do Destino, também conhecida como Pedra de Scone, são incertas. Ela foi usada na coroação dos reis escoceses a partir de 1249, até que Eduardo I da Inglaterra a confiscou em 1296 e posteriormente a doou ao Santuário de Santo Eduardo, o Confessor, na Abadia de Westminster.

“Esta não é uma pedra qualquer. Quando nacionalistas escoceses a retiraram à força da Cadeira da Coroação e a esconderam da Abadia de Westminster, em Londres, isso causou o fechamento da fronteira anglo-escocesa pela primeira vez em 400 anos, porque, desde o século XIV, quase todos os monarcas ingleses, posteriormente britânicos, sentavam-se sobre a Pedra durante sua coroação, em um ato que simbolizava a subjugação dos escoceses”, explica a professora Sally Foster, da Faculdade de Artes e Humanidades da Universidade de Stirling.

Furto foi incentivado por movimento pela autonomia da Escócia no pós-guerra (Imagem: Robert Colonna/Shutterstock)

O uso da Pedra na recente coroação do Rei Charles incentivou uma onda de novos estudos históricos e científicos; no entanto, a existência e o significado dos pequenos fragmentos da Pedra foram negligenciados, segundo a pesquisadora. Foi aí que começou a sua investigação em jornais e arquivos, contato com curadores de coleções e especialistas institucionais, além de trabalho etnográfico.

“Desde que minhas descobertas começaram a surgir, muitos membros do público entraram em contato comigo compartilhando o conhecimento de suas famílias sobre fragmentos de pedra que considero confiáveis, frequentemente acompanhados de evidências que as corroboram.”

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Herança de família

A história de vários fragmentos foi rastreada em arquivos oficiais. Foster descobriu, por exemplo, que um dos estudantes envolvidos no furto, Ian Hamilton, recebeu um dos fragmentos e o colocou em um broche de prata oferecido a sua esposa Sheila como presente de aniversário. 

Em outro caso, Gray entregou um pedaço da pedra a uma turista australiana chamada Catherine Milne com o objetivo de espalhar a “missão” por todos os continentes. Após a morte de Milne em 1967, o fragmento foi doado ao Museu de Queensland por familiares.

Gray era o braço direito de John MacCormick, que liderou o movimento do Pacto Nacional para independência da Escócia na década de 1950. O filho de MacCormick presenteou o ex-primeiro-ministro escocês Alex Salmond com um fragmento que pertencia à sua mãe em 2008. Posteriormente exibido na sede do SNP (Partido Nacional Escocês), o fragmento de MacCormick foi entregue aos Comissários para a Salvaguarda das Insígnias Reais em 2014 — que ainda não decidiu seu futuro.

Um fragmento da Pedra doado ao Museu de Queensland, na Austrália (Imagem: Museu de Queensland)

Um dos fragmentos também acabou com a política nacionalista Winnie Ewing, que usava um medalhão com um chip quando foi entrevistada na televisão por David Frost em 1967 e que expressou o desejo de ser presa por posse de “propriedade roubada”. Enquanto isso, o jornalista canadense e editor do Calgary Herald, Dick Sanburn, exibiu o seu em sua mesa como um troféu.

A Pedra do Destino foi devolvida à Escócia em 1996 e, atualmente, é mantida no Castelo de Edimburgo. No entanto, ela é transportada a Londres sempre que um novo monarca é coroado. O roubo da pedra não resultou em processos criminais porque se decidiu que não era do interesse público.

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