A ciência já sabe que há muitos milhares de anos os seres humanos começaram a domesticar lobos. Esse importante passo levou à ampla variedade de cachorros que temos no mundo, mas os elos para entender como e quando essa interação se iniciou ainda são difusos.
Dois estudos publicados na revista Science simultaneamente na quinta-feira (13/11), porém, trouxeram novas luzes para entender como se deu essa diferenciação. Os dados indicam que grande parte da diversidade visível em cães atuais surgiu milhares de anos antes da seleção moderna.
Os trabalhos analisaram dois aspectos diferentes, por um lado estudaram os crânios dos primeiros cães para entender como a morfologia dos animais começou a se separar do lobo. O segundo avaliou como essas mudanças foram impactando o DNA.
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Fósseis de cachoros sugerem relação antiga
A análise das ossadas foi feita por cientistas da França e do Reino Unido e examinou crânios de mais de 600 cães e lobos de até 50 mil anos. Os resultados mostraram um formato distinto em fósseis encontrados no noroeste da Rússia, reforçando a hipótese de que a domesticação começou antes de 12 mil anos atrás.
Pesquisadores observaram que os animais já tinham focinho curto e face mais larga em crânios antigos, além de variação expressiva entre cachorros associados a grupos de caçadores-coletores ou de agricultores, revelando que os animais não eram usados apenas para a caça.
“Embora os crânios de cães mais antigos não fossem distinguíveis dos de lobos, o grau de diferenciação observado no final do Pleistoceno (de 2 milhões a 11,7 mil anos atrás) sugere associações ainda mais antigas do que se pensava entre humanos e canídeos”, afirma a pesquisadora Sacha Vignieri, editora dos dois artigos na Science.
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Os cachorros podem aprender 150 palavras humanas
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Difereciação entre espécies começou muitos anos antes do que cientistas acreditavam
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Parceria entre cachorros e humanos começou com convivência que ia além da caça e da mera serventia dos animais
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Estudo genético também busca origem
O outro estudo, por sua vez, mostra através de linhagens genéticas que os humanos transportavam cães durante suas migrações, reproduzindo indivíduos de mesmas famílias. A análise de genomas de cães antigos da Eurásia revelou correlação entre deslocamentos humanos e distribuição de linhagens caninas. As espécies avançaram lado a lado por vastas regiões.
Cientistas verificaram ainda que características apreciadas em determinados ambientes influenciavam a circulação dos animais. Nos registros do Ártico, por exemplo, havia indícios de cães trocados entre povos, provavelmente devido à demanda por trabalho e resistência ao frio.
Os dados genéticos de 73 cães antigos mostraram alterações de ancestralidade compatíveis com rotas migratórias humanas. Cães do leste europeu tinham ligação com grupos da Sibéria oriental. Animais de regiões agrícolas apresentavam marcas de domesticação que refletiam hábitos de cada sociedade.
Parcerias moldadas por necessidade
Os estudos também mostraram que desde o início a diversidade canina atendia necessidades variadas. A variação já estava consolidada quando as práticas agrícolas se expandiram. Isso aponta para processo de seleção realizado por comunidades antigas de forma contínua.
Os pesquisadores destacaram ainda que o volume de variação observado há 10 mil anos ultrapassa expectativas. Isso desafia noções tradicionais, que atribuem às raças vitorianas do século 19 papel central na criação da diversidade morfológica moderna.
Apesar dos avanços, os estudos não definem onde o processo de domesticação começou. Os dados apontam caminhos possíveis, mas ainda não há consenso. Os fósseis mais antigos com características de cães estão na Rússia, mas linhagens genéticas antigas aparecem em regiões distintas.
Pesquisadores afirmam que a origem pode ter envolvido ainda diferentes populações de lobos. A interação entre essas linhagens produziu variações que se misturaram ao longo do tempo. Essa hipótese explica a diversidade encontrada em materiais datados do Holoceno.
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