O brasileiro está bebendo cada vez menos álcool

Pela primeira vez, a maioria dos adultos no Brasil declarou ter passado o ano sem consumir bebidas alcoólicas. O dado aparece na nova edição do Panorama Álcool e Saúde dos Brasileiros, elaborado pelo Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA) com pesquisas conduzidas pela Ipsos-Ipec. Em 2025, 64% dos entrevistados disseram não ter ingerido álcool, um salto expressivo em relação a 2023, quando o índice estava em 55%.

A tendência de redução é puxada principalmente pelos jovens. Entre pessoas de 18 a 24 anos, a proporção de abstinentes chegou a 64%, e entre 25 e 34 anos, 61%. O movimento também foi observado em grupos com ensino superior, moradores do Sudeste e indivíduos das classes A e B.

Mudanças de frequência e padrão de consumo

Além do aumento da abstinência, a pesquisa identificou queda na regularidade entre quem ainda consome bebidas alcoólicas. Houve redução na ingestão semanal ou quinzenal e mais de um terço dos bebedores relatou tomar uma ou duas doses por ocasião. O dado indica que, mesmo entre consumidores, há uma tendência de moderação.

A coleta foi realizada em setembro de 2025, com 1.981 entrevistas presenciais em diferentes regiões do país. A amostra representou homens e mulheres acima de 18 anos, de todas as classes sociais, com margem de erro de dois pontos percentuais.

O desafio do consumo abusivo

Apesar da queda geral, um ponto chama atenção: muitos bebedores abusivos continuam sem reconhecer o próprio padrão de risco. Entre aqueles que ingerem grandes quantidades por ocasião, 82% acreditam beber de forma moderada, enquanto apenas 9% admitem exagerar.

O brasileiro está bebendo cada vez menos álcool. Foto: FreePik

Arthur Guerra, psiquiatra e presidente do CISA, alerta para essa falsa percepção. “Ser mais tolerante ao álcool, ou seja, beber muito e não sentir os efeitos do álcool, não significa ser mais resistente ou estar protegido dos prejuízos do álcool. Pelo contrário, precisar aumentar a quantidade de álcool para atingir os efeitos desejados é um sinal de alerta”.

Onde o consumo pesado é mais comum

O levantamento aponta que o consumo elevado, definido como sete doses ou mais na mesma ocasião, ocorre com mais frequência entre homens, adultos de 25 a 44 anos, pessoas com ensino médio e moradores das regiões Norte e Centro-Oeste.

O estudo também reuniu dados sobre mortalidade e internações associadas ao uso nocivo do álcool. Em 2023, foram registradas mais de 73 mil mortes atribuíveis à substância, com aumento de 10,2% em comparação com 2010. Quinze estados aparecem acima da média nacional. No mesmo recorte, as internações ultrapassaram 418 mil em 2024, número que vem crescendo ao longo da última década.

Jovens estão entre os que mais reduzem o consumo

Segundo Mariana Thibes, doutora em sociologia e coordenadora do CISA, o comportamento das faixas etárias mais jovens segue uma tendência global. “Além do aumento da abstinência, o consumo abusivo de álcool na faixa etária dos 18 a 24 anos diminuiu de 20% para 13% em dois anos e a maioria deles, quando bebe, consome uma ou duas doses por ocasião”.

Essa mudança, segundo a pesquisadora, indica que jovens adultos têm adotado um padrão de consumo mais cuidadoso, alinhado ao interesse crescente por saúde mental, bem-estar e autocuidado.

Resumo:
Novos dados mostram que 64% dos brasileiros não beberam álcool em 2025, com forte avanço da abstinência entre jovens. Embora a frequência de consumo tenha caído, o padrão abusivo ainda preocupa e muitos não reconhecem o risco. As taxas de mortes e internações relacionadas ao álcool continuam elevadas, reforçando a importância de políticas de prevenção.

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