Antes de se separarem das mães, os orangotangos selvagens aprendem que tipo de plantas e animais podem servir de alimento na natureza, como obtê-los e como consumi-los. Sem observar a experiência dos mais velhos, no entanto, eles não conseguiriam adquirir tamanho conhecimento. A descoberta foi publicada nessa segunda-feira (24/11), na revista Nature Human Behaviour.
“Essas dietas devem ser produto de experiências e inovações de muitos outros indivíduos, que se acumularam ao longo do tempo”, aponta o coautor do artigo, Claudio Tennie, da Universidade de Tübingen, na Alemanha.
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Para compreender se orangotangos jovens eram capazes de aprender o cardápio da espécie sozinhos, foram analisados dados coletados sobre primatas selvagens das florestas pantanosas de Suaq Balimbing, na Indonésia. Foram 12 anos de observações diárias do comportamento dos animais.
Além disso, os pesquisadores construíram um modelo de simulação que recriava a vida dos orangotangos do nascimento até a maturidade – atingida com cerca de 15 anos – para servir como observação.
No arquétipo, foram adicionados três comportamentos que influenciam a dieta dos animais na natureza: observação de outros indivíduos, a proximidade com orangotangos mais experientes (para ver o que ele estavam comendo e fazer o mesmo) e/ou serem levados por seus coirmãos até os locais de alimentação.
O resultado confirmou o que os autores já esperavam: os orangotangos desenvolveram dietas parecidas às dos adultos quando atingiram a maturidade.
Para testar a eficácia da descoberta, um dos comportamentos de influência na dieta dos animais foi eliminado no modelo. E o efeito foi imediato: os animais simulados tiveram um desenvolvimento alimentar mais lento, atingindo apenas 85% do repertório alimentar esperado na vida adulta.
“Apresentamos evidências convincentes de que a cultura permite que os orangotangos selvagens construam repertórios de conhecimento muito mais amplos do que aqueles que poderiam aprender de forma independente”, afirma o autor principal do estudo, Elliot Howard-Spink, da Universidade de Zurique, na Suíça.
Aprendizado dos orangotangos na infância
Quando adultos, os primatas geralmente são solitários, ressaltando a importância do aprendizado alimentar adquirido na infância. No entanto, com o encolhimento das populações dos animais, é cada vez mais comum ver orangotangos órfãos, o que também diminui as chances de sobrevivência.
“Os programas de reintrodução ensinam os orangotangos a se alimentarem fora do cativeiro. Nosso estudo enfatiza a importância de transmitir todo o seu cardápio cultural, para que esses animais tenham a maior chance de sucesso na natureza”, ressalta a coautora do artigo, Caroline Schuppli, da Universidade de Zurique.
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