Atenção: a matéria a seguir inclui uma discussão sobre suicídio. Se você ou alguém que você conhece precisar de ajuda, procure ajuda especializada. O Centro de Valorização da Vida (CVV) funciona 24h por dia pelo telefone 188. Também é possível conversar por chat ou e-mail.
A morte de um familiar por suicídio provoca efeitos que ultrapassam o choque inicial e repercutem intensamente no luto, na saúde e no bem-estar dos que conviviam com a vítima.
Um estudo conduzido por pesquisadores da Fiocruz mostra que familiares coabitantes apresentam 32% mais risco de morrer por qualquer causa e quatro vezes mais risco de morrer por suicídio após a perda.
Realizada pelo Cidacs/Fiocruz Bahia, a pesquisa analisou dados da “Coorte de 100 Milhões de Brasileiros”, vinculados ao Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), abrangendo registros de 2001 a 2018.
Foram identificados 47.982 primeiros casos de suicídio dentro das famílias, e todos os demais moradores desses domicílios foram considerados expostos.
A pesquisadora responsável pelo estudo, Flávia Alves, explica que os cientistas investigaram fatores de risco, condições domiciliares e o intervalo entre o evento inicial e as mortes subsequentes.
“Identificar os fatores associados à recorrência de suicídio — especialmente nos primeiros anos após a perda — é essencial para fortalecer ações de posvenção”, afirma.
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Risco maior nos primeiros anos após a perda
O levantamento indica que 43,6% dos óbitos entre familiares expostos ocorrem até dois anos após o suicídio inicial, período de maior impacto emocional e social.
Os riscos aumentam quando o caso-índice envolve jovens, mulheres ou famílias vivendo em condições precárias.
Flávia destaca que o estudo supera limitações de pesquisas anteriores ao utilizar uma base populacional ampla, permitindo examinar exposições e desfechos raros com maior precisão.
Urgência em políticas de apoio
O aumento da mortalidade entre familiares expostos foi observado tanto em causas externas, como quedas, quanto em doenças crônicas, incluindo câncer e problemas cardiovasculares.
Para os pesquisadores, isso revela a amplitude dos efeitos da perda, que podem incluir estresse prolongado, adoecimento mental e barreiras de acesso à saúde.
“Esses achados reforçam a necessidade de intervenções que vão além do cuidado individual, incorporando também fatores socioeconômicos”, diz Flávia. Ela afirma que os resultados podem apoiar gestores na formulação de políticas públicas voltadas à prevenção e ao apoio pós-suicídio.
Em 2023, mais de 16,8 mil mortes por suicídio foram registradas no país. A pesquisadora conclui enfatizando a urgência de estratégias integradas de posvenção, com suporte psicossocial, acompanhamento clínico e ações voltadas à equidade em saúde mental.
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