Carro e meio ambiente: entenda qual é o custo ambiental dos veículos

A presença dos carros nas cidades costuma ser discutida a partir do trânsito, do preço da gasolina ou da promessa da eletrificação. Mas as consequências do uso expressivo do meio de transporte ultrapassa o que acontece nas ruas.

Desde a retirada de minérios até o descarte final, cada etapa relacionada ao automóvel exige volumes grandes de recursos naturais e interfere na qualidade do ambiente urbano.

A mobilidade baseada no carro também redefine o uso do solo, amplia o consumo de energia e intensifica problemas já conhecidos em centros urbanos. O resultado aparece no ar, na temperatura das cidades e na forma como a água se comporta quando chove.

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Carro e o uso de recursos naturais

A fabricação de um veículo começa muito antes da montagem. A extração de ferro, alumínio, cobre, lítio e outros minérios envolve um consumo grande de água e energia, além de gerar rejeitos industriais. Nos modelos elétricos, a produção das baterias aumenta ainda mais essa demanda.

Durante a vida útil, o carro exige combustíveis, lubrificantes, pneus e uma série de componentes que dependem de petróleo ou de processos industriais. No fim da linha, a reciclagem ainda não alcança todos os materiais, deixando uma parte deles classificada como resíduo perigoso.

“Mesmo quando um carro elétrico compensa o gasto energético da fabricação da bateria, ele continua preso a uma lógica de uso que demanda solo impermeabilizado, grandes vias e uma infraestrutura pesada que consome recursos continuamente”, explica Marcos Godoy, engenheiro ambiental e professor do UniArnaldo, em Belo Horizonte.

Como o carro altera o clima urbano

A expansão das vias asfaltadas, necessária para acomodar cada vez mais carros, acaba mudando o comportamento das chuvas. O asfalto impede que a água infiltre no solo e direciona volumes grandes diretamente para a drenagem.

A consequência são enchentes frequentes e a redução da recarga dos lençóis freáticos. O mesmo asfalto também retém calor durante o dia e o libera lentamente durante a noite. Isso faz com que a temperatura aumente em vários graus e intensifique o desconforto térmico.

O professor de engenharia de transporte Tafarel Carvalho de Gois, do Ibmec, em Brasília, explica que o problema não está só no número crescente de veículos, mas também no quanto eles obrigam as cidades a se adaptar a uma lógica que favorece o asfalto em vez das áreas verdes e superfícies permeáveis.

“Soluções como biovaletas, pavimentos permeáveis e bacias de retenção conseguem reduzir tanto o volume de água encaminhado à drenagem quanto a temperatura superficial das vias, mas só funcionam quando aplicadas de forma integrada ao planejamento urbano”, afirma Carvalho.

Combustíveis fósseis e a dificuldade de transição

Apesar do avanço dos veículos elétricos, a maior parte da frota mundial ainda depende de gasolina e diesel. Esses combustíveis precisam de extração, refino e transporte, processos que consomem muita energia.

“Os derivados de petróleo exigem processos de extração que consomem energia e alteram ecossistemas inteiros, especialmente em ambientes marinhos, onde a exploração gera danos de longo prazo”, explica Ana Carolina Valerio Nadalini, engenheira ambiental e coordenadora da Câmara Ambiental do IBAPE/SP.

Já os elétricos deslocam a pressão para minerais como lítio e cobalto e só reduzem emissões de forma significativa quando abastecidos por fontes limpas. No modelo atual, seja ele elétrico ou a combustão, o uso individual continua sendo o elemento menos eficiente.

Ar mais poluído e doenças

O trânsito é uma das principais fontes de gases e partículas finas que prejudicam o sistema respiratório. Substâncias como material particulado, óxidos de nitrogênio e monóxido de carbono agravam asma, bronquite, doenças cardiovasculares e aumentam internações em regiões próximas a vias movimentadas.

A poluição liberada pelo trânsito intensifica doenças respiratórias e cardiovasculares em áreas urbanas

O que precisa mudar nas cidades?

Especialistas ouvidos pelo Metrópoles defendem que reduzir a dependência do carro exige mudar todo o cotidiano urbano. Isso inclui aproximar moradia, trabalho e serviços, investir em transporte público confiável, criar calçadas acessíveis e ciclovias contínuas, limitar vagas em áreas centrais e adotar zonas de baixa emissão.

Além disso, a revisão do uso do asfalto é fundamental, já que superfícies permeáveis e soluções naturais de drenagem ajudam a controlar enchentes e a reduzir a temperatura das cidades.

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