Mistérios nas alturas: conheça o Planalto de Pamir, o “teto do mundo”

Ao escutar o apelido “teto do mundo”, você já imagina uma região bastante alta, quase próxima ao céu. E, acredite, esse local existe: trata-se do Planalto de Pamir, uma região montanhosa localizada na Ásia Central e que se estende pelo Tajiquistão, Afeganistão, Quirguistão e a China. Por lá, há um dos planaltos e montanhas mais elevadas do mundo – alguns vales chegam a ter mais de 3,5 mil metros de altitude, enquanto outros picos podem ultrapassar 7 mil metros.

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Diferente de cadeias montanhosas famosas, como o Himalaia e o Tibete, que são amplamente explorados por expedições científicas e turismo, o teto do mundo quase não recebe visitantes e passou a ser mais investigado tardiamente.

“O Pamir ficou por muito tempo fora do mapa por motivos históricos e estratégicos, especialmente durante o período soviético e dos conflitos gerados pela Revolução Cultural do período Maoísta na China”, diz o professor de geografia Flávio Bueno, do Centro Educacional Sigma, em Brasília.

Mesmo com o fim dos conflitos antigos, a visitação ao Pamir ainda não é uma missão fácil: pense em uma viagem em que você irá encarar estradas perigosas e com pouca infraestrutura pelo caminho. Além disso, a região faz fronteira com áreas instáveis belicamente, como o Afeganistão.

“É possível visitá-lo, mas é preciso estar apto: ter a documentação adequada e se preparar para altitude, frio intenso e longas distâncias sem apoio. Nos últimos anos, o turismo de aventura tem crescido, mas ainda é muito restrito”, aponta o professor.

Curiosidades do Planalto Pamir

Moradores do teto do mundo

Sim, mesmo sendo um lugar que ultrapassa os 4 mil metros de altitude, tem gente que mora no Planalto de Pamir. Por lá, a população vive em vilas pequenas e isoladas por meses no inverno. A moradia “tranquila” só é possível através de adaptações fisiológicas que foram desenvolvidas naturalmente com o tempo, como a tolerância a baixas temperaturas e à disponibilidade de oxigênio.

De acordo com Bueno, a economia do Pamir depende do pastoreio e agricultura de subsistência em pequenas áreas irrigadas. Ambas atividades são realizadas aproveitando as particularidades do clima e relevo local.

“Os habitantes nativos são os pamiris, um povo iraniano. Muitos deles possuem olhos claros (verdes ou azuis), uma característica que vem de antigas populações indo-europeias da Ásia Central”, explica o professor de geografia Marcello Sayão, da Rio International School, no Rio de Janeiro.

Estrada construída pela União Soviética 

Feita pela União Soviética com objetivo estratégicos e militares da época, a rodovia de Pamir é uma das estradas pavimentadas mais altas do mundo, mas também uma das menos movimentadas. O asfalto “corta” várias regiões, incluindo o Tajiquistão, Quirguistão, Uzbequistão e uma pequena parte do Afeganistão.

Imagem mostra uma das partes da estrada que corta o Planalto de Pamir

Como é o clima do local?

Por estar em um lugar com grandes altitudes, o Pamir possui clima frio e seco, com invernos longos e rigorosos – as temperaturas podem chegar a -20°C. Os verões são mais curtos e com pouca quantidade de chuva. Já os ventos são fortes e a radiação solar é maior por ser uma região bastante alta.

Assim como o restante do mundo, o planalto também está à deriva das mudanças climáticas, principalmente devido ao derretimento de geleiras. “O degelo acelerado, juntamente com fortes precipitações, pode causar deslizamentos de terra e inundações. A perda de geleiras também pode levar a secas futuras”, afirma Sayão.

Planalto de Pamir: uma ponte do passado para o presente

Historicamente, o Pamir era um lugar estratégico de passagem na Rota da Seda – vasta rede de rotas comerciais antigas –, conectando vários pontos de venda asiáticos. Além de seda, por lá passavam pedras preciosas, cavalos e outros bens preciosos.

Com o passar do tempo, o teto do mundo deixou de ser uma rota comercial para cumprir um papel mais político e ambiental. Por um lado, ele abriga fronteiras sensíveis entre potências regionais. Do outro, serve de reserva hídrica para grandes rios asiáticos, além de ser um “palco” perfeito para pesquisas científicas sobre clima, placas tectônicas e modos de vida extremos na altitude.

“O futuro da região passa fundamentalmente pelo entendimento da complexidade ambiental e geopolítica da região. As decisões globais sobre transição energética e a preocupação com as crises humanitárias regionais precisam estar no debate responsável das grandes potências globais, já que o futuro do espaço e dos povos que lá habitam podem estar sob risco”, finaliza Bueno.

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