O que é ‘rage bait’ e por que é a palavra do ano para o dicionário Oxford em 2025

A Oxford University Press (OUP) elegeu rage bait como a Palavra do Ano de 2025 nesta segunda-feira (1º). O termo (“isca de raiva, em tradução livre) define conteúdo online criado para provocar indignação. É o conteúdo feito daquele jeito frustrante, ofensivo ou irritante só para aumentar tráfego e engajamento em plataformas digitais.

O uso de “rage baittriplicou nos últimos 12 meses. E a OUP vê nisso uma virada na forma como a internet funciona. A atenção deixou de ser capturada pela curiosidade e passou a ser sequestrada pela emoção. Qual? A raiva, principalmente. 

Quase todos os principais dicionários do mundo também escolheram termos ligados à internet como palavra do ano. Isso reforça como a tecnologia já domina não só o cotidiano, mas a própria linguagem.

Rage bait’ funciona como isca emocional fabricada para irritar e gerar engajamento

O termo descreve conteúdos deliberadamente provocadores, fabricados para gerar indignação. É uma tática de manipulação que estimula o engajamento online ao provocar emoções fortes. 

Rage bait se refere ao conteúdo feito daquele jeito frustrante, ofensivo ou irritante só para aumentar tráfego e engajamento online (Imagem: Dicionário Oxford)

O mecanismo lembra o do clickbait (aquele título irresistível que não entrega o que promete ao leitor). Mas com um objetivo mais específico: fazer a pessoa sentir raiva.

A expressão combina rage (explosão violenta de raiva) e bait (isca). Ela surgiu em fóruns da internet (Usenet) em 2002, originalmente descrevendo a reação de um motorista provocado por outro que piscava os faróis. 

Com a popularização das redes sociais, passou a designar postagens e comentários planejados para acionar emoções negativas.

O “rage bait” pode ser relativamente inofensivo, como receitas com combinações repugnantes de alimentos ou vídeos incomodando animais de estimação. 

No entanto, também entrou no discurso político. Como? Ao ser usado para impulsionar perfis de políticos e provocar reações. 

Em casos mais graves, dá origem ao “rage-farming” (cultivo de raiva). São tentativas sistemáticas de manipular reações e construir indignação contínua, especialmente por meio de desinformação e teorias da conspiração

Curiosidade: expressão voltou às manchetes após a atriz Jennifer Lawrence confessar ter criado um perfil anônimo no TikTok para discutir com fãs de cinema.

Escolha da Oxford revela ciclo de manipulação algorítmica que exausta a cultura digital

A Oxford University Press realiza a seleção da Palavra do Ano desde 2004, com o objetivo de identificar expressões que traduzem transformações sociais e culturais. 

A escolha é baseada em evidências de uso, consultas públicas (com mais de 30 mil participantes em 2025) e análise de dados linguísticos

O propósito é “incentivar as pessoas a refletirem sobre onde estamos como cultura, quem somos no momento, através da lente das palavras que usamos”, segundo comunicado publicado pela OUP.

Em 2024, o dicionário Oxford elegeu ‘brain rot’ – deterioração cerebral – como palavra do ano (Imagem: Jack_the_sparow/Shutterstock)

A Palavra do Ano de 2024 foi “brain rot (deterioração cerebral), por exemplo. O termo capturou o esgotamento mental da rolagem interminável de conteúdo em intermináveis feeds.

Segundo Casper Grathwohl, presidente da Oxford Languages, “rage bait” e “brain rot“formam um ciclo poderoso onde a indignação desperta o engajamento, os algoritmos a amplificam e a exposição constante nos deixa mentalmente exaustos”

Grathwohl acrescenta que essas palavras “não apenas definem tendências”. “Elas revelam como as plataformas digitais estão remodelando nosso pensamento e comportamento.”

Rage bait” venceu finalistas como aura farming (cultivo de uma persona impressionante para transmitir confiança ou mística) e biohack (otimização do desempenho físico ou mental por meio de alterações no estilo de vida, dieta ou tecnologia). 

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Outros dicionários também escolheram termos digitais: o Cambridge elegeu “parassocial” (relacionamentos online com pessoas que não conhecemos, com pico de uso após o noivado de Taylor Swift e Travis Kelce). E o Collins escolheu “vibe coding (programação por meio de IA, que transforma linguagem natural em código). 

A força de “rage bait” está no reconhecimento de que 2025 foi marcado por debates intensos sobre identidade na era digital e questionamentos sobre quem realmente somos, tanto online quanto offline.

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