Por que aprender uma nova língua “rejuvenesce” o cérebro?

Falar mais de um idioma sem dúvida pode abrir portas tanto no campo profissional, como cultural e educacional. Mas um novo estudo descobriu que além dessas benesses, aprender uma nova língua também é capaz de rejuvenescer o cérebro.

Se sentir mais jovem é o desejo de muitos. E estratégias como rotina de treinos, alimentação saudável e o investimento em produtos e procedimentos estéticos figuram como as principais ferramentas. Mas refrear o declínio do órgão que comanda tudo pode ser a estratégia mais essencial para um envelhecimento saudável.

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Aprender uma nova língua reduz metade a probabilidade de apresentar sinais de envelhecimento biológico em comparação com aquelas que falam apenas um idioma. (Imagem: saifulasmee chede/iStock)

Um estudo realizado em parceria com pesquisadores de universidades da Argentina, Chile, Colômbia e Estados Unidos foi publicado na revista Nature Aging recentemente, e atestou que aprender uma nova língua está diretamente ligado a um envelhecimento biológico mais lento e um risco reduzido de apresentar declínio cognitivo.

O estudo partiu do princípio de que o envelhecimento cerebral é influenciado por fatores de risco modificáveis, ou seja, aprender uma nova língua, ou várias, pode ser um deles.

Para chegar a essa máxima, os cientistas analisaram dados de 86.149 pessoas de 27 nacionalidades diferentes, com idades entre 51 e 90 anos. Diversos estudos foram realizados no passado investigando os efeitos de aprender uma nova língua no cérebro, mas nenhum com uma amostra tão abrangente com mais de 80 mil pessoas. 

Como metodologia, os cientistas utilizaram um indicador denominado “lacuna de idade biocomportamental”, que mede a diferença entre a idade cronológica e a idade biológica do órgão. Uma pessoa pode ter um cérebro com idade cronológica de 70 anos, mas com idade biológica de 50, por exemplo. 

A pesquisa, que tem como coautor o neurocientista Agustín Ibañez, da Universidade Adolfo Ibañez em Santiago, no Chile, utilizou marcadores como estado de saúde, estilo de vida e condições socioeconômicas. 

Além disso, integrou outros fatores, como capacidade funcional, escolaridade, desempenho cognitivo e condições adversas, como deficiências cardiometabólicas e sensoriais – que é a perda total ou parcial de um ou mais sentidos. 

Pessoas de 51 até 90 anos participaram do estudo. (Imagem: PeopleImages.com – Yuri A/Shutterstock

Em suma, quanto menor for essa “lacuna de idade biocomportamental” mais salutar será o envelhecimento. E, consequentemente, os riscos de desenvolver complicações que prejudiquem a saúde a longo prazo também diminuem.

No resultado das análises, aprender uma nova língua, ou praticar vários idiomas, reduziu pela metade a probabilidade de envelhecimento acelerado. Por outro lado, falar apenas a língua materna aumentou significativamente esse risco. 

Mesmo depois de ajustes para variáveis físicas, linguísticas, sociais e políticas, os efeitos permaneceram, o que indica que o benefício está diretamente ligado ao uso e à aprendizagem de idiomas e não apenas a fatores culturais ou educacionais associados. E quanto mais línguas aprendidas, maiores são as vantagens. 

“Apenas um idioma adicional já reduz o risco de envelhecimento acelerado. Mas quando se fala dois ou três, esse efeito é ainda maior”, explicou Ibañez em entrevista à revista Nature

Aprender uma nova língua, ou pôr em uso as aprendidas no passado, é mais do que uma atividade intelectual, é um fator protetor quando se fala em saúde e em prevenção de doenças neurológicas. 

“O multilinguismo parece atuar como uma forma natural de ginástica cerebral, fortalecendo circuitos cognitivos e preservando a saúde do cérebro ao longo da vida”, alerta Ibañez. 

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