A cobertura do 5G chega a 64% da população brasileira, marca alcançada no fim de novembro e que supera com folga a meta de 57% prevista para 2027. Mas o avanço da infraestrutura contrasta com o uso real: só uma em cada cinco linhas móveis está de fato conectada à rede ultrarrápida.
Para o presidente da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Carlos Baigorri, o motivo principal para esse descompasso está no bolso, segundo o jornal Folha de S. Paulo. Aparelhos com apenas 4G, bem mais baratos do que os com 5G, ainda dominam as vendas. Na prática, isso adia a migração para o 5G.
Mesmo assim, o Brasil se destaca no cenário global. O país tem uma das redes 5G mais rápidas do mundo, segundo Baigorri. Ainda de acordo com o presidente da Anatel, isso é resultado do modelo de leilão, que priorizou investimento em infraestrutura.
Custo de aparelhos desacelera migração de usuários para o 5G
O Brasil fechou outubro de 2025 com 55,1 milhões de linhas 5G ativas, o que representa 20,4% dos acessos móveis, segundo dados divulgados pela Anatel.
Quando se excluem as conexões M2M, usadas em automação e IoT (maquininhas de cartão e sensores industriais, por exemplo), o uso sobe para 25,4%. Mesmo assim, o salto ainda está longe do ritmo que a infraestrutura permitiria.
Nos últimos 12 meses, a base cresceu 50%, adicionando 18,3 milhões de novos acessos. Mas o 5G avança mais devagar do que o 4G no mesmo ponto do seu ciclo.
A média mensal ficou em 1,5 milhão de novas linhas em 2025, levemente abaixo da média de 1,6 milhão registrada em 2024. É um crescimento expressivo, só que menos acelerado do que o necessário para acompanhar a velocidade de expansão da rede.
A explicação está no preço. Smartphones compatíveis ainda pesam no orçamento, especialmente para usuários de pré-pago, que compõem a maior parcela da base nacional.
Enquanto o 4G deslanchou com aparelhos mais baratos, o 5G ainda esbarra no acesso limitado. “É um tema que a gente tem conversado com o Ministério das Comunicações: como promover a redução dos custos do celular 5G no Brasil”, disse o presidente da Anatel, segundo a Folha.
Mesmo com o freio de custo, a Teleco projeta 59 a 60 milhões de celulares 5G até dezembro e cerca de 80 milhões no fim de 2026 – movimento puxado por operadoras como a Vivo, que lidera o segmento com 22,1 milhões de linhas, seguida por Claro e TIM.
Leilão sem arrecadação impulsionou infraestrutura e velocidade da rede
Mais de dois mil municípios contam com 5G, segundo a Anatel. E a consultoria Opensignal confirma o que Baigorri disse sobre velocidade: Vivo, Claro e TIM aparecem entre as operadoras com as maiores velocidades de download do planeta.
O ministro das Comunicações, Frederico de Siqueira Filho, reforça que esse avanço decorre de política pública direcionada. E de um setor que vê o país como terreno fértil para novos investimentos, segundo o jornal.
O motor desse salto foi o leilão não-arrecadatório. Em vez de cobrar valores bilionários que iriam para o Tesouro, a Anatel impôs obrigações agressivas de investimento. Na prática, as empresas “pagaram” construindo rede.
Esse desenho criou uma corrida entre operadoras por mais 5G, mais cidades e mais ofertas, o que acelerou a implantação. A competitividade aumentou com a entrada de novas provedoras, como Brisanet, Unifique e Copel Telecom, favorecida por lotes regionais e pelo compartilhamento obrigatório de torres até 2030.
Outros fatores turbinaram o ritmo. Por exemplo: a liberação antecipada da faixa de 3,5 GHz, usada pelo 5G standalone (entenda), e a expansão do uso em setores como o agronegócio e as redes privativas da indústria.
Conectividade nas estradas expõe gargalos que também afetam avanço do 5G
A situação das rodovias brasileiras ajuda a entender por que a expansão de redes móveis ainda encontra limites práticos, mesmo com o avanço rápido da infraestrutura urbana do 5G.
Apenas 47% dos 445 mil quilômetros de estradas federais e estaduais têm 4G de ao menos uma operadora. E menos de 12% contam com 5G, segundo dados da Anatel.
Isso significa que boa parte do país continua dependente de conexões instáveis fora dos centros urbanos, o que afeta desde motoristas até transportadoras e serviços que precisam de comunicação contínua.
Para reduzir essa defasagem, a agência discute novas regras que devem entrar nos próximos leilões de frequências, impondo cobertura obrigatória em trechos prioritários.
Em estudo, operadoras vencedoras teriam até três anos para garantir 100% de 4G em vias estratégicas, como a BR-101, que ainda possui cerca de mil quilômetros sem sinal.
A Anatel também avalia implementar roaming obrigatório nas rodovias até o próximo ano. Isso permitiria que o usuário permanecesse conectado mesmo fora da área da sua operadora.
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A expansão também depende das concessões rodoviárias, que desde 2018 passaram a exigir conectividade como regra contratual. Concessionárias como EcoRodovias, Vivo, TIM e Claro já investem para ampliar cobertura em rotas importantes — da BR-163, no Mato Grosso, às Via Dutra e Rio-Santos.
Mesmo assim, especialistas apontam que ainda não há previsão realista para atingir 100% de cobertura móvel nas estradas. Isso reforça que infraestrutura, regulação e atratividade econômica ainda são pontos de tensão.
O resultado é um cenário no qual a evolução do 5G avança rápido nas cidades, mas ainda esbarra em gargalos estruturais quando o usuário sai do perímetro urbano.
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