A rotina de treinos faz bem para o corpo, a mente e até para a autoestima, mas é comum surgir a dúvida: será que alguns hábitos da academia podem fazer o cabelo cair? Entre suor, bonés, penteados muito apertados e até o uso de anabolizantes, há muitas teorias circulando por aí.
Para entender o que realmente influencia a saúde dos fios, Julio Pierezan, tricologista pós-graduado em dermatologia e membro da Sociedade Brasileira do Cabelo (SBC), esclarece o que procede e o que não passa de mito.
Suor derruba cabelo?
Não. O suor em si não causa queda capilar. O problema aparece quando o couro cabeludo fica úmido por muito tempo e não recebe uma boa higienização depois do treino. O ambiente abafado aumenta a oleosidade e favorece inflamações. De acordo com Julio, não é a transpiração que derruba o fio, e sim a falta de limpeza adequada.
Boné causa calvície?
Depende. O boné não tem poder de causar calvície genética, mas o uso prolongado com o couro cabeludo suado e abafado pode provocar irritações e queda temporária. O acessório vira um problema quando mantém a raiz quente e úmida por muito tempo.
Penteado apertado provoca falhas?
Sim. Prender o cabelo com muita força, especialmente em treinos mais intensos, pode levar à alopecia por tração. O estiramento constante machuca os folículos, e as falhas costumam aparecer principalmente nas laterais da cabeça.
Anabolizantes aceleram a perda de fios?
Sim. O uso de anabolizantes aumenta os níveis de di-hidrotestosterona (DHT), hormônio que encurta o ciclo dos fios. Em pessoas com predisposição genética, isso acelera a miniaturização e o afinamento dos cabelos. Segundo o tricologista, essa é uma das causas mais frequentes de queda em quem busca hipertrofia.
Lavar o cabelo todos os dias faz mal?
Mito. Para quem treina com frequência e tem tendência à oleosidade, lavar diariamente ajuda a manter o couro cabeludo limpo e saudável. O que causa irritação é deixar o suor secar na raiz ou ficar dias sem lavar, favorecendo caspa, coceira e dermatite seborreica.
Quando a queda indica problema de saúde?
A perda de fios nem sempre está ligada à academia. Em muitos casos, é um alerta do próprio corpo sobre algo maior. Doenças autoimunes, alterações da tireoide e infecções podem se manifestar primeiro no couro cabeludo. “A alopecia areata, por exemplo, é uma doença autoimune que provoca falhas circulares em uma ou mais áreas da cabeça. Por isso, manter o check-up em dia é essencial”, afirma Julio.
Será que alguns hábitos da academia podem fazer o cabelo cair? Foto: FreePik
Calvície não é igual a queda temporária
Alopecia androgenética é progressiva e tem origem genética. O fio vai afinando, diminuindo de tamanho e, com o tempo, o folículo deixa de produzir cabelo, principalmente na área frontal e no topo da cabeça.
A queda temporária, por outro lado, costuma ter causa pontual: estresse, medicamentos, pós-cirurgias, dietas restritivas ou inflamações. Quando o gatilho é resolvido, o cabelo volta a crescer.
“A grande diferença é que, na queda temporária, o cabelo retorna ao normal depois que o gatilho é solucionado, diferente da calvície genética, que precisa de tratamento contínuo”, explica o especialista.
Quais tratamentos funcionam de verdade
O primeiro passo é evitar receitas milagrosas e automedicação. Quanto antes a queda é investigada, maiores as chances de resultado. Nos estágios iniciais da calvície, medicamentos tópicos e orais costumam apresentar boa resposta. Em quadros avançados, o transplante capilar se torna a solução mais indicada.
Quando a área doadora é pequena, o tricologista destaca técnicas como o Body Hair Transplant, que utiliza fios de outras regiões do corpo, como barba e tórax. “O resultado é definitivo e natural, porque esses fios não sofrem ação da calvície, embora possam cair em situações isoladas de estresse, doenças ou uso de medicamentos”, explica.
Bonés, maquiagens capilares e micropigmentação funcionam como disfarce, mas não tratam a causa. Superar a vergonha e buscar avaliação especializada é o caminho para recuperar os fios de forma segura.
Resumo:
A queda de cabelo ligada a treinos geralmente está associada à falta de higienização, penteados apertados ou uso de anabolizantes, e não ao suor em si. O tricologista Julio Pierezan reforça que é importante diferenciar a calvície genética da queda temporária e buscar avaliação profissional ao notar afinamento ou falhas. Com os cuidados certos, é possível treinar sem sacrificar a saúde capilar.





