Um cosmonauta originalmente escalado para integrar a 12ª missão tripulada da SpaceX à Estação Espacial Internacional (ISS) sob contrato com a NASA – a Crew-12 – foi retirado da equipe e substituído por outro astronauta da Roscosmos, a agência espacial russa.
Antes de entrar nos detalhes dessa história, vamos entender por que russos integram missões norte-americanas e vice-versa. Isso faz parte de um acordo de assentos cruzados firmado entre a Rússia e os EUA, que nasceu da necessidade de manter presença contínua de ambos os países na ISS.
A primeira missão oficial com troca de assentos entre EUA e Rússia foi a Soyuz MS-11. Da direita para a esquerda: Frank Rubio, astronauta da NASA, e seus companheiros russos Sergey Prokopyev e Dmitri Petelin, que ficaram 371 dias na estação espacial. Crédito: Roscosmos
Troca de assentos entre EUA e Rússia em missões espaciais teve início em 2022
Embora desde 1998 os dois liderem o consórcio internacional de 15 nações que opera a estação, o intercâmbio de tripulantes só começou efetivamente após o fim dos voos dos ônibus espaciais, no início da década passada, quando os EUA passaram a depender totalmente dos veículos Soyuz para chegar ao laboratório orbital, e a Rússia aceitou levar astronautas norte-americanos de forma regular.
Em 2022 que as trocas regulares de tripulação se tornaram oficiais, quando representantes das duas agências assinaram o contrato de assentos cruzados. Desde então, cada lançamento leva ao menos um representante do outro país, garantindo continuidade operacional caso qualquer veículo fique temporariamente indisponível. Esse esquema protege a rotina da ISS e impede que uma suspensão técnica deixe módulos inteiros sem equipes treinadas para operá-los.
O cosmonauta Oleg Artemyev já esteve três vezes na ISS, todas transportado por espaçonaves russas. Ele voaria pela primeira vez em uma cápsula da SpaceX na missão Crew-12, em fevereiro de 2026, mas foi cortado. Crédito: Peryn22 – Shutterstock
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Nesta terça-feira (2), em um comunicado, a Roscosmos anunciou que Oleg Artemyev foi cortado do time da missão SpaceX Crew-12 e substituído por Andrei Fedyayev. A agência informou apenas que Artemyev foi transferido para outra função, mas de acordo com o site investigativo russo The Insider, a situação é mais complexa.
Segundo a publicação, ele teria sido afastado por possíveis violações aos Regulamentos Internacionais sobre Tráfico de Armas (ITAR), uma lei dos EUA que controla o acesso a tecnologias sensíveis ligadas à segurança do país. O cosmonauta teria usado o celular para fotografar documentos da SpaceX e “enviar informações confidenciais”, o que configuraria o vazamento de informações restritas.
“Meus contatos confirmam que ocorreu uma violação e que uma investigação interdepartamental foi iniciada”, disse o analista de lançamentos Gregory Trishkin ao Insider. “Remover alguém de uma missão dois meses e meio antes do lançamento, sem uma explicação clara, é um sinal indireto, mas indicativo. É muito difícil imaginar uma situação em que um cosmonauta experiente pudesse cometer inadvertidamente uma violação tão grave.”
Um canal russo no Telegram especializado em voos espaciais revelou que o incidente teria acontecido na semana anterior, durante treinamentos de Artemyev na sede da SpaceX em Hawthorne, na Califórnia. Ali, ele teria fotografado motores e outros equipamentos considerados sensíveis.
Artemyev esteve envolvido em polêmica na ISS
Até o momento, nem a SpaceX nem a NASA se manifestaram sobre a mudança, enquanto a Roscosmos manteve apenas a explicação oficial de que ele foi realocado dentro da agência.
Os cosmonautas Oleg Artemyev, Denis Matveyev e Sergey Korsakov posando para foto com a bandeira da República Popular de Luhansk (região controlada pela Rússia dentro da Ucrânia), na Estação Espacial Internacional. Crédito: Roscosmos
Artemyev acumula cerca de 560 dias no espaço, distribuídos em três missões de longa duração realizadas em 2014, 2018 e 2022. A última ocorreu um mês após o início da invasão russa à Ucrânia. Na ocasião, a Roscosmos chegou a divulgar fotos de Artemyev e outros dois cosmonautas na ISS segurando bandeiras de regiões separatistas apoiadas pela Rússia, gesto criticado pela NASA e pela Agência Espacial Europeia (ESA), que reforçaram que a estação não deve ser usada para manifestações políticas.
A Crew-12 está prevista para ser lançada em 15 de fevereiro, levando a bordo, além de Fedyayev, Sophie Adenot (ESA) e outros dois astronautas ainda não revelados para uma estadia de aproximadamente seis meses na ISS.
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