A Alemanha integrou o Arrow 3, um dos sistemas mais avançados do mundo contra mísseis balísticos intercontinentais, à sua defesa aérea nesta quarta-feira (03). O país se tornou a primeira nação europeia a operar o equipamento israelense, que intercepta ameaças fora da atmosfera.
A ativação é uma resposta direta à guerra da Rússia contra a Ucrânia e ao avanço dos mísseis de longo alcance russos. O Arrow 3 é peça central da “Zeitenwende” – a virada de época na política de segurança alemã começada em 2022, que inclui aumento bilionário em gastos militares.
O sistema preenche uma lacuna crucial na Europa: proteger não só o território alemão, mas também parceiros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) contra ataques balísticos que, até agora, não tinham defesa efetiva no continente.
Arrow 3 destrói mísseis por impacto direto a 100 km de altitude
O Arrow 3 foi projetado para neutralizar mísseis balísticos de grande altitude bem antes de eles entrarem novamente na atmosfera. As Forças Armadas da Alemanha (Bundeswehr) pretendem interceptar essas ameaças na trajetória até o espaço.
Para você ter ideia, o sistema opera em altitudes de até 100 quilômetros, na transição para o vácuo. E atinge alvos a até 2,4 mil km de distância.
Desenvolvido numa parceria entre Israel e Estados Unidos, o Arrow 3 usa a tecnologia “hit-to-kill” (destruição por impacto). O míssil interceptado é destruído por colisão direta, sem explosivos. Isso gera menos detritos que uma detonação convencional, o que aumenta a segurança sobre áreas povoadas.
A precisão exige um sistema de orientação. Por isso, a ogiva tem sensores próprios para correção de rumo na fase final. O conceito difere do Domo de Ferro, feito para ataques de curto alcance vindos de Gaza e Líbano.
O sistema tem três componentes móveis:
Radar: detecta trajetória rapidamente;
Sistema de gerenciamento de combate: analisa ameaças e define medidas de interceptação;
Lançador: dispara mísseis interceptores.
Agora, a defesa da Alemanha tem camadas. O Arrow 3 é uma delas – a camada de longo alcance. As demais são:
Patriot (MIM-104): sistema americano de defesa aérea e antimíssil de médio alcance (até cerca de 50 km);
IRIS-T SLM (Infra Red Imaging System Tail/Thrust Vector-Controlled – Surface Launched Medium Range): sistema alemão de defesa aérea de curto e médio alcance (até aproximadamente 15 km).
Juntos, Patriot e IRIS-T atuam em altitudes de até 50 quilômetros. O Arrow 3 completa essa rede ao interceptar mísseis balísticos.
Essas armas seguem uma trajetória determinada pela gravidade após a fase de aceleração do motor. Elas ascendem a grandes altitudes (podendo chegar ao espaço) e caem sobre o alvo.
Mísseis balísticos são particularmente difíceis de parar porque voam a velocidades extremas. Modelos intercontinentais modernos, como o russo Sarmat, passam dos 20 mil km/h.
Alemanha investe bilhões de euros em escudo contra mísseis russos
O risco de ataque direto com mísseis de grande altitude ou do espaço é considerado baixo para a Alemanha e a Europa. Mas países como a Rússia possuem mísseis balísticos de longo alcance que podem representar ameaça séria.
A Alemanha enxerga os mísseis de médio alcance russos, como o Oreshnik, como a principal ameaça à sua população e infraestrutura. Análises da Otan alertavam há tempos para essa lacuna de segurança na Europa. E o Arrow 3 foi pensado para fechá-la.
O sistema já provou eficácia em combate recente. Ele integra a rede de defesa aérea de Israel e tem sido creditado por derrotar ondas de mísseis balísticos iranianos.
O Arrow 3 interceptou centenas de mísseis lançados pelo Irã e seus aliados no Oriente Médio, além de ataques de rebeldes Houthis no Iêmen.
O CEO da Israel Aerospace Industries (IAI), Boaz Levy, disse que o sistema se provou “de forma fenomenal”, com taxa de interceptação superior a 90% (ou 86% durante o conflito com o Irã, segundo o Ministério da Defesa israelense).
A Alemanha e Israel acertaram a compra no final de setembro de 2023 em Berlim. Foi o maior acordo de armas já firmado por Israel. O custo total varia na imprensa, mas todas as estimativas passam dos três bilhões de euros (aproximadamente R$ 19 bilhões). O valor inclui pacotes de manutenção e suporte projetados para garantir operação por décadas.
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O primeiro local do sistema é o aeródromo militar de Holzdorf, perto de Schönewalde, ao sul de Berlim. Holzdorf serve como ponto de partida para o desenvolvimento de um escudo protetor nacional.
Outros dois locais estão planejados: um na Baviera e outro em Schleswig-Holstein. O sistema será distribuído em três pontos (norte, sul e centro) para cobrir todo o país.
O objetivo é que a capacidade total de proteção do Arrow 3 seja alcançada até 2030. O sistema passará a integrar, pela primeira vez, a Iniciativa Escudo Celeste Europeu (ESSI), projeto de defesa aérea e antimísseis proposto originalmente pela Alemanha e criado em 2022.
“Com esta capacidade estratégica, que é única entre os nossos parceiros europeus, estamos garantindo o nosso papel central no coração da Europa”, disse o ministro da Defesa, Boris Pistorius.
“Assim, não estamos apenas nos protegendo, mas também aos nossos parceiros. Estamos, assim, fortalecendo o pilar europeu da Otan e cumprindo um objetivo da Otan”, acrescentou.
Para a Europa, o Arrow 3 representa um passo rumo à independência de sistemas dos Estados Unidos.
(Essa matéria também usou informações das agências AP e Reuters.)
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