Um estudo inédito na Alemanha procura seis voluntários para simular a experiência humana no espaço. Os escolhidos passarão 100 dias em confinamento numa imitação de estação espacial na cidade de Colônia para sentir na pele como é a vida dos astronautas em missões que exigem isolamento, que pode durar vários meses.
Como recompensa, cada participante que completar o estudo levará 23 mil euros (aproximadamente R$ 140 mil).
“As futuras missões espaciais irão além da órbita da Terra e terão como destino locais distantes, como a Lua ou Marte”, diz a chamada a candidaturas para o estudo SOLIS1000. “Mais importante do que nunca preparar os astronautas para os desafios psicológicos e fisiológicos das missões de longo prazo.”
O objetivo é entender quais são os efeitos das condições extremas impostas pelo isolamento espacial sobre a saúde, o comportamento, a performance e o bem-estar dos seres humanos. Assim, será possível melhor determinar qual tipo de apoio os astronautas precisam quando deixam o nosso planeta.
O estudo é financiado pela Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês) e organizado pelo Centro Aeroespacial Alemão (DLR, na sigla em alemão). Já a experiência do confinamento ocorrerá no Instituto de Medicina Aeroespacial.
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Requerimentos rígidos
Os desafios para quem se aventura no espaço incluem o prolongado período em isolamento da Terra, a privação de diversas interações sociais e a convivência em espaços limitados, o que gera riscos fisiológicos e psicológicos.
Os participantes serão cuidadosamente escolhidos, segundo os responsáveis pelo estudo, para garantir que estejam aptos às dificuldades que encontrarão pelo caminho. Os principais requerimentos incluem ter entre 25 e 55 anos, estar em boas condições de saúde, praticar exercício físico regularmente e ter comprovada proficiência em inglês.
Também é necessário ter formação superior, preferencialmente nos campos da medicina, engenharia de software, tecnologia ou correlatos. Será necessário passar por exames psicológicos, físicos e médicos para ser aceito.
“Missões à Lua e a Marte exigem resiliência, autonomia e capacidade de adaptação”, explica o Instituto de Medicina Aeroespacial.
O estudo será conduzido em inglês. Cidadãos de fora da União Europeia, como os brasileiros, podem se candidatar, desde que providenciem visto e seguro-viagem.
Pouco banho, sem soneca
A rotina dos participantes vai imitar a vida dos astronautas, que inclui trabalho em equipe, pesquisa científica e desafios operacionais.
No total, a experiência dura 126 dias. Antes dos cem dias de isolamento, marcados para o período entre 7 de abril e 7 de agosto de 2026, haverá 16 dias de preparação. Em seguida, os participantes ainda passarão por uma semana de recuperação.
Num teste para o estudo completo, três homens e duas mulheres de diferentes países simularam uma missão espacial durante oito dias. Sem luz do dia nem contato com o mundo exterior, o cotidiano deles foi de monitoramento constante e um cronograma rígido.
As regras incluíam apenas dois horários para banho durante a semana e exercícios físicos diários. Os cochilos durante o dia são proibidos, e cada pessoa só podia levar 1,5 quilo de pertences pessoais.
Os únicos lugares que não serão monitorados por câmeras durante os quatro meses do SOLIS100 são as cabines onde dormem os participantes e os banheiros.
Sessenta dias na cama
No espaço, a ausência de gravidade ainda provoca diversas alterações no corpo humano. Entre elas, incluem-se a perda de massa muscular e óssea, devido à redução do estresse, bem como um deslocamento de fluidos corporais em direção à cabeça devido à ausência de peso.
Os astronautas frequentemente apresentam dificuldades para controlar a postura e os movimentos ao retornarem à Terra após uma missão espacial. Em parceria com a Nasa, outro estudo do DLR quer entender por que astronautas passam por isso e o que pode ajudar a minimizar essas dificuldades.
Participantes também estão sendo procurados, todos falantes de alemão. O maior desafio, neste caso, é passar 60 dias deitado numa cama.
“É essencial garantir que os astronautas consigam realizar todas as tarefas durante as transições entre gravidade e ausência de peso sem sofrer riscos à saúde. Portanto, é necessário realizar pesquisas para determinar a melhor forma de manter e treinar a função sensório-motora em astronautas”, explica o DLR, também citando as futuras viagens para Marte e a Lua.
O experimento envolve o uso de camas inclinadas seis graus para baixo na região da cabeça, fazendo com que os fluidos corporais se desloquem em direção à cabeça, assim como acontece no espaço.
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