O uso de um aplicativo de mensagens para tratar de informações ultrassecretas colocou o secretário de Guerra dos Estados Unidos, Pete Hegseth, no centro de uma investigação conduzida pelo órgão independente de fiscalização do Pentágono. O caso ganhou repercussão em março, quando um jornalista foi incluído por engano em um grupo onde eram discutidos detalhes sobre um bombardeio no Iêmen.
A apuração, divulgada nesta quinta-feira (4), indica que Hegseth compartilhou dados sensíveis sobre operações militares usando o Signal, ferramenta que não integra os canais oficiais do governo americano para comunicação sigilosa. As mensagens tratavam de horários e número de aeronaves envolvidas em um ataque contra o grupo rebelde Houthis, realizado em março.
Uso de canal não autorizado
De acordo com o gabinete do inspetor-geral do Pentágono, liderado por Steven Stebbins, o secretário enviou informações não públicas por meio de uma rede classificada como “não aprovada e não segura”. O relatório afirma que a conduta trouxe “risco potencial de comprometimento” de dados sensíveis do Departamento de Defesa.
O documento também aponta que o uso de um celular pessoal para tratar de tarefas oficiais aumenta a exposição de informações estratégicas e pode afetar diretamente a segurança de tropas e o andamento de missões. No centro da polêmica está o fato de o Signal não ser autorizado para o compartilhamento de comunicações sigilosas, já que o Executivo americano dispõe de sistemas próprios para isso.
O caso escalou após Hegseth divulgar ali detalhes sobre um ataque que ainda não havia ocorrido. A situação ganhou repercussão quando um jornalista da revista The Atlantic foi adicionado acidentalmente ao grupo e teve acesso às mensagens, conforme relato publicado pela própria revista.
Reação política em Washington
A revelação provocou reação imediata no Congresso dos EUA. Parlamentares democratas e republicanos passaram a cobrar medidas da Casa Branca, com parte da oposição pedindo a demissão de Hegseth e do conselheiro de Segurança Nacional, Mike Waltz.
Hegseth e o presidente Donald Trump minimizaram o episódio e negaram que informações sigilosas tenham sido compartilhadas. Ainda assim, Trump determinou que o governo avalie a segurança do Signal para uso em comunicações relacionadas a assuntos nacionais. A investigação independente, aberta em abril, segue sob responsabilidade do inspetor-geral do Pentágono, que possui autonomia para apurar possíveis irregularidades.
Vazamento e inclusão acidental de jornalista
O caso ganhou contornos ainda mais graves quando Jeffrey Goldberg, editor-chefe da The Atlantic, relatou ter sido incluído por engano no grupo de mensagens onde autoridades discutiam estratégias militares. Ele recebeu uma solicitação no Signal de um usuário identificado como “Michael Waltz”, nome idêntico ao do conselheiro de Segurança Nacional.
Goldberg só acreditou no teor das mensagens dias depois, quando os EUA realizaram ataques a partir de porta-aviões no Oriente Médio. O The New York Times classificou o episódio como “uma falha extraordinária de segurança”.
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Conversas internas reveladas
A publicação da The Atlantic destacou que, no grupo, estavam Hegseth, Waltz, o vice-presidente J.D. Vance e o secretário de Estado Marco Rubio. Em trechos relatados pela revista, Vance comentou que apenas “3% do comércio americano passa pelo Canal de Suez”, enquanto o percentual europeu seria de “40%”. Em seguida, afirmou: “Eu apenas odeio salvar a Europa de novo.”
Hegseth respondeu: “Eu compartilho totalmente do seu desprezo pelos aproveitadores europeus. É PATÉTICO.”
A análise da revista também observou que, logo após os ataques, Waltz concedeu entrevistas elogiando a postura do governo Trump e criticando a estratégia do governo Biden no Iêmen, classificada por ele como “alfinetadas pouco efetivas”.
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