Novo estudo sobre transtornos mentais pode ajudar a combater estigma

Um novo artigo acadêmico propõe uma mudança profunda na forma como a sociedade e a própria psicologia clínica enxergam os transtornos mentais.

Em vez de focar exclusivamente nos danos e limitações, pesquisadores sugerem incluir também atributos positivos frequentemente presentes nessas condições — uma abordagem que, segundo eles, pode reduzir o estigma, melhorar o cuidado e oferecer esperança a pacientes e famílias.

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Revisão acadêmica sugere que pacientes podem desenvolver habilidades únicas enquanto enfrentam seus desafios emocionais (Imagem: GrAl/Shutterstock)

Criatividade, empatia e redes sociais mais fortes

No estudo “Aspectos Positivos nos Transtornos Psicológicos: Uma Agenda para Pesquisa e Mudança Social”, June Gruber, professora da Universidade do Colorado em Boulder, e colegas da Universidade Cornell reúnem décadas de evidências que relacionam doenças mentais a características como criatividade, empatia, sensibilidade emocional e resiliência.

Pesquisas citadas no artigo mostram que pessoas com esquizofrenia leve, hipomania ou transtorno bipolar tendem a apresentar níveis mais altos de criatividade e a buscar carreiras criativas.

Indivíduos com histórico de depressão, por sua vez, demonstram maior disposição para cooperar.

Em um estudo com quase 2.000 universitários, jovens no espectro bipolar relataram redes sociais mais amplas e maior sensação de apoio, apesar dos conflitos decorrentes da condição.

Outro trabalho revelou que pessoas com risco elevado de mania são mais capazes de detectar mudanças sutis nas emoções alheias.

O estudo foi publicado na revista Current Directions in Psychological Science.

Cientistas propõem repensar transtornos mentais com foco em potencial humano – Evidências sugerem que criatividade, sensibilidade emocional e redes sociais mais amplas fazem parte do quadro para muitos pacientes.Imagem: Tero Vesalainen / Shutterstock

Uma visão mais ampla e esperançosa da saúde mental

O artigo também destaca relatos de pacientes que enxergam momentos difíceis como gatilhos para construção de autoconhecimento e resiliência.

Em um estudo conduzido por Jonathan Rottenberg, da Universidade Cornell, 10% dos participantes diagnosticados com depressão clínica estavam “prosperando” uma década depois — com níveis de bem-estar superiores aos de adultos sem histórico depressivo.

Os autores ressaltam, contudo, que reconhecer aspectos positivos não significa minimizar o sofrimento ou abandonar tratamentos como medicamentos e psicoterapia. A proposta é ampliar o olhar, preservando pontos fortes individuais enquanto se controla os sintomas prejudiciais.

“Compreender a pessoa de forma holística permite apoiá-la melhor”, afirma Gruber.

Evidências sugerem que criatividade, sensibilidade emocional e redes sociais mais amplas fazem parte do quadro para muitos pacientes (Imagem: Pavlova Yuliia/Shutterstock)

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