Metade dos brasileiros sofreu algum tipo de golpe digital em 2024, segundo relatório da empresa de segurança BioCatch publicado nesta sexta-feira (05). O documento, obtido pela CNN Brasil, mostra que golpes como smishing, vishing e fraudes com deepfakes dispararam no último ano. Isso num cenário em que a América Latina se tornou o ponto mais crítico do mapa global das fraudes. Só no Brasil, quase R$ 5 bilhões foram perdidos em golpes envolvendo Pix.
O relatório aponta um aumento expressivo no registro de fraudes entre 2024 e 2025. Além disso, o documento alerta para a expansão de “fábricas de golpes”, sobretudo no Camboja, onde trabalhadores escravizados aplicam fraudes em escala industrial.
É um modelo que, segundo a BioCatch, começa a se aproximar da América do Sul. E os dados ajudam a entender por que órgãos reguladores e o sistema financeiro têm acelerado medidas de proteção contra golpes no Brasil.
Golpes digitais crescem em ritmo recorde e colocam a América Latina no centro do problema, segundo relatório
O relatório da BioCatch mostra que o ambiente de fraude digital mudou de escala. Entre 2024 e 2025, os golpes cresceram 65% no mundo.
O destaque vai para a América Latina, onde o avanço foi ainda mais brusco. Para você ter ideia, o volume de ataques aumentou seis vezes em apenas um ano.
A combinação de comunicação barata, transferência instantânea de dinheiro e uso indevido de dados abriu espaço para golpes cada vez mais rápidos e difíceis de detectar.
No Brasil, o impacto aparece com força. Segundo o levantamento, 51% dos brasileiros foram vítimas de algum tipo de golpe digital no período analisado. E somente no Pix houve perdas de R$ 4,9 bilhões.
A pesquisa também aponta uma explosão em modalidades que exploram engenharia social (técnicas que pressionam ou enganam o usuário para obter informações sensíveis).
Entre elas, o smishing (chega por SMS com links maliciosos) cresceu 14 vezes. E o vishing, aplicado por telefone, também avançou rapidamente.
Outra preocupação são os golpes impulsionados por tecnologia. O relatório registrou um salto de 830% no uso de deepfakes para ludibriar vítimas, seja imitando voz, seja simulando imagens.
Para a BioCatch, esse tipo de ferramenta potencializa fraudes que antes exigiam mais preparo. Agora, criminosos conseguem construir histórias convincentes com poucos cliques, o que aumenta a taxa de sucesso das abordagens.
A investigação também acende um alerta sobre a origem das operações. Segundo Erin West, fundadora da Operation Shamrock, o grupo acompanhou de perto as chamadas “fábricas de fraude” no Camboja.
Lá, cidades inteiras foram transformadas em centros de trabalho forçado – todos dedicados a golpes, operando abertamente e em franca expansão.
O relatório aponta que esse modelo já começa a chegar à América do Sul. Isso amplia a pressão sobre sistemas financeiros e autoridades para conter o avanço dessas quadrilhas.
BC corre para reagir ao avanço das fraudes e tenta bloquear contas abertas com dados roubados
A disparada dos golpes digitais ajuda a explicar por que o Banco Central acelerou a criação do BC Protege+, ferramenta lançada nesta semana para impedir a abertura de contas em nome de terceiros.
A lógica é simples: muitos golpes dependem justamente de uma “conta laranja” (aberta com documentos furtados ou vazados) para receber o dinheiro desviado.
Ao permitir que o usuário ative um bloqueio geral para novas contas vinculadas ao seu CPF ou CNPJ, o BC tenta quebrar uma das etapas mais comuns dessas fraudes.
O Protege+ funciona como uma trava. Quando ativado, ele impede que bancos concluam a abertura de conta ou incluam um novo titular sem que o próprio usuário desabilite temporariamente a proteção.
Além disso, a plataforma permite acompanhar quais instituições consultaram o CPF ou CNPJ e por qual motivo. É uma forma de dar mais transparência e alertar o cidadão sobre possíveis tentativas de uso indevido dos seus dados.
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Para o BC, a iniciativa responde a uma demanda crescente por controle num país que registrou quase sete milhões de tentativas de fraude apenas no primeiro semestre de 2025.
O movimento do Banco Central dialoga diretamente com os achados do relatório da BioCatch: se golpes crescem em escala industrial e usam dados pessoais como combustível, interromper a abertura de contas fraudulentas se torna uma estratégia central para reduzir o impacto dessas quadrilhas.
O Protege+ não resolve o problema sozinho (o próprio BC reforça que ele não substitui outras camadas de verificação). Mas adiciona um obstáculo importante num momento em que criminosos se valem de engenharia social, deepfakes e redes internacionais para ampliar seus ataques.
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