Rastreamento obrigatório em celulares causa confronto entre operadoras e big techs na Índia

O governo indiano estuda uma proposta para tornar obrigatório o rastreamento por satélite sempre ativo em smartphones. A ideia, apresentada por operadoras de telefonia, gerou forte oposição da Apple, do Google e da Samsung por riscos à privacidade, alerta a Reuters.

A discussão ganhou força após a revogação de uma ordem que exigia um app estatal pré-instalado.

Vigilância digital avança na Índia após debate sobre rastreamento obrigatório em smartphones reacender críticas de privacidade. Imagem gerada por IA via DALL-E/Vitória Gomez/Olhar Digital

Por que a Índia quer rastrear tudo?

A proposta surge porque, segundo o governo, os dados de localização fornecidos hoje por torres de celular não são precisos o suficiente em investigações. O plano das operadoras prevê que os fabricantes ativem o A-GPS — tecnologia que combina satélite e rede móvel — sem possibilidade de desligamento pelo usuário.

Documentos citados mostram que o Ministério de Tecnologia da Informação avalia o pedido desde junho. A COAI, que representa grandes operadoras como Jio e Bharti Airtel, defende que apenas com o A-GPS ativado permanentemente seria possível entregar coordenadas com precisão de aproximadamente um metro.

Uma carta do lobby India Cellular & Electronics Association (ICEA) afirma que “o serviço de rede A-GPS… não está implantado nem é suportado para vigilância de localização” e classifica a exigência como “um abuso de poder regulatório”.

Apple, Samsung e Google dizem que proposta indiana criaria vigilância inédita e colocaria usuários sensíveis em risco. Imagem: Mamun_Sheikh / Shutterstock.com

O que preocupa Apple, Google e Samsung?

As empresas argumentam que a medida é sem precedentes no mundo. A ICEA alerta que militares, juízes, executivos e jornalistas — usuários com informações sensíveis — seriam expostos a riscos se o rastreamento constante fosse ativado por padrão.

Esta proposta faria com que telefones funcionassem como um dispositivo de vigilância dedicado.

Junade Ali, especialista em perícia digital, à Reuters.

Cooper Quintin, da Electronic Frontier Foundation, organização que defende liberdades civis no mundo digital, afirmou não conhecer proposta parecida em nenhum outro país e a classificou como “bastante assustadora”.

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Além disso, a ICEA lembra que algumas práticas atuais já geram desconforto: quando operadoras tentam acessar dados de localização, o sistema exibe um alerta na tela. As empresas querem que o governo elimine essa notificação, mas Apple e Google defendem que ela permaneça para garantir transparência.

Rastreamento permanente preocupa especialistas, que veem ameaça direta à privacidade em um país com 700 milhões de celulares. Imagem: babar ali 1233/Shutterstock

Operadoras contra fabricantes

Com mais de 700 milhões de smartphones em uso, a Índia é um dos maiores mercados do mundo, e qualquer mudança afeta praticamente toda a população. Enquanto operadoras pressionam por acesso mais preciso, fabricantes argumentam que a privacidade do usuário precisa permanecer no centro da discussão.

Para entender o embate, vale resumir os pontos-chave:

Operadoras querem A-GPS sempre ligado, sem que o usuário possa desativar.

Fabricantes dizem que isso equivaleria a vigilância permanente, colocando cidadãos em risco.

Notificações de rastreamento dividem grupos: operadoras querem removê-las; Apple e Google defendem mantê-las.

Uma reunião entre o governo e executivos do setor estava prevista, mas foi adiada, aumentando a incerteza sobre os próximos passos.

Por enquanto, a proposta segue nas mãos do governo indiano, sem prazo para ser implementada.

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