Mariana: bananas em solo afetado estão com níveis de chumbo elevados

Pesquisadores brasileiros identificaram que bananas cultivadas em solos do estuário do rio Doce, em Linhares (ES), estão contaminadas com elementos potencialmente tóxicos (EPTs), como chumbo e cádmio. Eles foram encontrados em níveis acima do recomendado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO, na sigla em inglês), o que poderia causar problemas de saúde em crianças.

A região capixaba vem sendo atingida com os rejeitos da barragem do Fundão, localizada em Mariana (MG), desde o rompimento em novembro de 2015.

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O apontamento é baseado em estudo liderado por cientistas da Universidade de São Paulo (USP), da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e da Universidade de Santiago de Compostela, na Espanha. Os resultados foram publicados no início de outubro na revista científica Environmental Geochemistry and Health.

O objetivo do estudo era avaliar os riscos de consumo de banana, mandioca e cacau plantados no local para a saúde humana. Por meio das investigações, foi possível identificar que as concentrações de cádmio, cromo, cobre, níquel e chumbo ocorreram devido à associação ao óxido de ferro, o principal constituinte do rejeito.

“O teor dos óxidos de ferro no solo, que são os principais constituintes do rejeito, está correlacionado ao teor deles na planta. Estudamos a passagem de constituintes do rejeito do solo para a água e da água para a planta, incluindo suas folhas e frutos”, explica a primeira autora do estudo, Amanda Duim, em entrevista à Agência Fapesp.

Avaliação das concentrações de EPTs em bananas e outros

De acordo com a pesquisadora, para descobrir se os elementos potencialmente tóxicos foram transferidos para os frutos cultivados em ambientes contaminados, foram realizados diversos processos.

Inicialmente, foram coletados o solo e as bananas; em seguida, elas foram lavadas e posteriormente secas, tendo a biomassa medida em ambos processos. Depois disso, raízes, caule, folhas e frutos sem a casca foram triturados separadamente.

“Só então analisamos todas as partes para saber o que havia em cada uma. Dissolvemos o ‘pó de planta’, transformando-o em solução com o uso de vários ácidos, e determinamos a concentração na solução. Convertemos o cálculo da concentração de material na solução e comparamos com o peso do material que foi diluído, conseguindo, assim, obter a concentração do EPT em miligramas por quilo de biomassa seca”, descreve Amanda.

Assim que foi detectado que os EPTs estavam acima do limite recomendado em partes comestíveis da banana, mandioca e cacau, os pesquisadores estimaram o risco do consumo dos alimentos para crianças com 6 anos ou menos e adultos.

Apesar do consumo da maioria dos alimentos não representar risco significativo para a saúde, os cálculos mostraram que as bananas cultivadas na região contêm EPTs que ultrapassam os limites seguros, tendo concentração maior de chumbo e cádmio do que o indicado pela FAO. Os níveis dos elementos são considerados perigosos para crianças, mas não para adultos.

Especialistas indicam que, mesmo em doses baixas, a exposição ao chumbo pode causar problemas neurológicos irreversíveis nas crianças, como diminuição de QI, déficit de atenção e distúrbios de comportamento. Além disso, o consumo a longo prazo de alimentos cultivados em solos contaminados pode aumentar o risco de outras condições mais graves, como cânceres.

“Com o passar do tempo de exposição, considerando a expectativa de vida do Brasil, de mais ou menos 75 anos, pode surgir o risco carcinogênico, uma vez que existe a possibilidade de ocorrerem danos diretos e indiretos ao DNA. Tudo depende da capacidade do organismo humano de absorver e metabolizar esses elementos que estão disponíveis no ambiente”, diz a coautora do trabalho, Tamires Cherubin.

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