Relatório sobre redes sociais divide fãs e críticos e joga Taylor Swift em nova tempestade digital

Uma pesquisa vaga sobre atividade “inautêntica” nas redes sociais foi suficiente para provocar uma nova onda de conflitos no ecossistema digital em torno de Taylor Swift. O episódio teve início após a publicação de uma reportagem da Rolling Stone, em 9 de dezembro, que apontou a atuação de contas coordenadas na disseminação de narrativas extremas após o lançamento do álbum The Life of a Showgirl. O material dividiu fãs, críticos e especialistas, reacendendo debates sobre bots, desinformação e os limites entre críticas legítimas e campanhas artificiais.

Logo após o lançamento do álbum, em outubro, a recepção foi marcada por discussões típicas de fandom: análises de letras, interpretações de possíveis significados ocultos e questionamentos sobre a qualidade do trabalho. Com o tempo, porém, o tom mudou. Parte do debate passou a girar em torno de acusações de que Taylor Swift estaria usando simbologia nazista ou sinalizando uma guinada política à extrema direita, apesar de a cantora ter declarado apoio à candidatura de Kamala Harris em 2024. O ambiente digital se tornou mais polarizado, com embates constantes entre fãs e detratores.

Estudo aponta narrativas inautênticas após lançamento do álbum da Taylor Swift

Dois meses depois, um relatório produzido pela empresa de monitoramento social Gudea trouxe novos elementos à discussão. Segundo a pesquisa, analisada pela Rolling Stone, foram examinadas 24.679 postagens de 18.213 usuários em 14 plataformas diferentes nos dias seguintes ao lançamento do álbum. O estudo identificou que narrativas classificadas como “inautênticas” surgiram inicialmente em fóruns de nicho, como o 4chan, e depois migraram para plataformas mais populares, como X e TikTok.

De acordo com o relatório, apenas 3,77% dos usuários analisados apresentaram comportamentos considerados atípicos, mas esse grupo foi responsável por mais de um quarto do volume total de postagens sobre o tema. Entre os assuntos mais amplificados por essas contas estavam teorias envolvendo simbolismo nazista, acusações de alinhamento político ao movimento MAGA e a politização do relacionamento de Swift com o jogador da NFL Travis Kelce.

A Gudea define contas inautênticas como aquelas que distorcem o debate ao postar de forma automatizada, repetir mensagens idênticas em larga escala ou atuar de maneira coordenada com outras contas. Ainda assim, o próprio relatório reconhece que a maioria das interações foi orgânica e que discussões sobre apropriação cultural, uso de AAVE e críticas gerais ao álbum partiram de usuários reais.

Reação do público e críticas à metodologia do relatório

A divulgação do estudo não encerrou o debate — pelo contrário. Para parte dos fãs, o relatório serviu como prova de que ataques a Taylor Swift foram inflados artificialmente. Para outros, especialmente críticos da artista, o material foi visto como uma tentativa de deslegitimar críticas feitas por pessoas reais, em especial mulheres negras que apontaram problemas em letras e simbolismos.

Para parte dos fãs, o relatório serviu como prova de que ataques a Taylor Swift foram inflados artificialmente (Imagem: Divulgação)

A falta de transparência metodológica também virou alvo de questionamentos. Especialistas observaram que o relatório não detalha critérios estatísticos, não apresenta exemplos claros das postagens analisadas nem explica como a amostra foi coletada. Além disso, a própria Gudea é uma empresa jovem, fundada em 2023, com poucas informações públicas sobre sua equipe ou histórico de clientes, o que alimentou suspeitas e teorias conspiratórias.

Entre os pontos centrais levantados no debate estão:

a dificuldade de diferenciar críticas legítimas de campanhas coordenadas;

o risco de rotular discursos reais como “bots” ou desinformação;

o papel da mídia na amplificação de conclusões pouco contextualizadas;

a velocidade com que narrativas virais se espalham e perdem nuance.

Miles Klee, jornalista da Rolling Stone responsável pela matéria, afirmou que o veículo não encomendou o relatório e que Taylor Swift não é cliente da Gudea. Ele destacou que o estudo não afirma que todas as críticas tenham sido fabricadas, mas alerta para a presença de atores mal-intencionados tentando manipular a conversa online.

A divulgação do estudo não encerrou o debate (Imagem: Reprodução/Netflix)

Pesquisadores de mídia social também apontam que a dinâmica descrita no relatório — explosões intensas e breves de discurso extremo, com mensagens repetitivas — é compatível com padrões conhecidos de engajamento inautêntico. Ainda assim, especialistas reforçam que a interpretação desses dados exige cuidado, justamente para não apagar vozes reais em meio ao ruído digital.

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No fim, o episódio ilustra como o debate em torno de Taylor Swift se tornou um exemplo mais amplo dos problemas do ecossistema digital atual: incentivos à viralização rápida, perda de contexto e dificuldade de separar comportamento coordenado de participação humana genuína. O relatório trouxe achados relevantes, mas sua comunicação limitada contribuiu para ampliar a confusão, mostrando que, na cultura online, a forma como a informação circula pode ser tão impactante quanto o conteúdo em si.

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