Se você já sentiu o ouvido “tampar” durante a decolagem ou pouso, ou pior, uma dor aguda que parece vir lá de dentro, saiba que não está sozinha. A barotrauma de ouvido — a dificuldade de equalizar a pressão durante voos — é uma das queixas mais comuns no consultório de otorrino.

E com o aumento das viagens de fim de ano e férias, entender como o ouvido reage no avião é essencial para prevenir desconfortos, dor e até infecções.

Por que o ouvido dói no avião?

Tudo se resume à pressão.

O ouvido médio é ligado ao nariz pela trompa de Eustáquio, um canal fino que equaliza a pressão interna com a pressão do ambiente.

Durante o voo, duas situações são críticas:

Decolagem: a pressão cai rapidamente.
Pouso: a pressão aumenta de uma vez.

Se a trompa de Eustáquio não abre adequadamente, a pressão fica “presa” dentro do ouvido — e isso causa:

ouvido tampado
dor aguda
estalos
zumbido
sensação de perda auditiva temporária

Quem tem rinite, sinusite, resfriado, alergias sazonais ou desvio de septo tende a sofrer mais.

Sinais de que seu ouvido não está equalizando bem

estalos constantes
sensação de pressão mesmo horas depois do voo
dor ao engolir
zumbido
redução da audição
incômodo no maxilar ou nos dentes (reflexo no nervo trigêmeo)

Se você sente esses sintomas, é provável que a trompa de Eustáquio esteja inflamada ou congestionada.

O que fazer ANTES da viagem para não ter dor de ouvido no avião

Medidas simples reduzem muito o risco de dor:

Lave o nariz com soro no dia do voo

Nariz limpo = trompa de Eustáquio funcionando melhor.

Use descongestionante nasal por 2–3 dias se estiver resfriada

Mas só com orientação médica.

Evite viajar com gripe, se possível

Infecções aumentam o risco de barotrauma.

Hidrate-se bem

Mucosas hidratadas equalizam melhor.

O que fazer DURANTE o voo para não ter dor de ouvido

Aqui está o “kit de sobrevivência” para o seu ouvido:

Mascar chiclete ou chupar bala na hora da subida e do pouso

Movimentos de mastigação estimulam a abertura da trompa.

Boiar água na boca e engolir devagar

A deglutição é a forma mais eficaz de equalizar.

Faça a manobra de Valsalva corretamente

Mas atenção:
só faça se não estiver gripada ou com sinusite, ou pode piorar.

Como fazer:

tampe o nariz
feche a boca
expire suavemente
espere o estalo no ouvido

Evite dormir no pouso

Quando dormimos, não engolimos com frequência → e a pressão se acumula.

Use protetores auriculares especiais para voo

Eles reduzem a entrada brusca de pressão e ajudam muito quem é sensível.

Cuidados ESPECIAIS com o ouvido das crianças em viagens de avião

Bebês e crianças sofrem mais porque a trompa de Eustáquio deles é menor e mais horizontal.

Durante decolagem e pouso:

ofereça mamadeira
dê peito
ofereça chupeta
incentive a beber água ou suco (para os maiores)

Engolir é a chave.

E se o ouvido ficar dolorido após o voo?

Pode ser barotrauma.

Os sintomas mais comuns são:

dor forte
ouvido tampado por dias
zumbido
dificuldade de ouvir
sensação de líquido dentro do ouvido

Nesses casos:

continue lavando o nariz

use anti-inflamatórios prescritos

use spray nasal por alguns dias

evite piscina (aumenta risco de otite)

Se houver febre, secreção, perda auditiva intensa ou dor por mais de 48 horas, procure o otorrino — pode haver inflamação ou até perfuração do tímpano.

Quem mais sofre com dor no ouvido em viagens de avião?

quem tem rinite alérgica
quem tem sinusite crônica
fumantes
quem tem desvio de septo importante
quem tem histórico de otite
quem tem alterações anatômicas do ouvido
gestantes com congestão nasal comum no fim da gravidez

O ouvido é extremamente sensível às mudanças de pressão — e o avião é um teste real para esse sistema.
Com cuidados simples antes, durante e depois do voo, você reduz drasticamente a chance de dor, entupimento ou complicações.

Viajar leve também significa viajar sem dor.

Dr. Bruno Borges de Carvalho Barros

Médico otorrinolaringologista pela UNIFESP

Médico do corpo clínico do hospital Albert Einstein

Especialista em otorrinolaringologia pela Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e cirurgia cervico-facial.

Mestre e fellow pela Universidade Federal de São Paulo.

https://www.instagram.com/dr.brunobarros/