Segundo um novo levantamento, 65% das famílias que têm bebês prematuros (aqueles nascidos antes das 37 semanas de gestação) consideram a experiência das primeiras vacinas uma situação estressante e preocupante. É o que afirma o estudo realizado pelo Datafolha, encomendado pela farmacêutica multinacional Sanofi.
Leia também
Hospital fotografa bebês prematuros em campanha de conscientização
Mães contam jornadas desafiadoras de amamentação com bebês prematuros
Doação de leite materno ajuda a salvar prematuros e recém-nascidos
Bebê prematuro nasce com 31 semanas, fica 62 dias na UTI e se recupera
A pesquisa “A Proteção aos Prematuros no Brasil”, divulgada em novembro, entrevistou pais e mães de crianças entre 0 a 5 anos nascidas prematuramente, em todas as regiões do país. A participação majoritária foi de mulheres e dos que tiveram filhos internados por longos períodos em UTI neonatal.
De acordo com os resultados, os primeiros cuidados com a fragilidade dos bebês causam medos e traumas nos pais, além de haverem ruídos nas informações repassadas sobre a importância e quais vacinas são recomendadas para reforçar o sistema imunológico mais frágil dessas crianças.
Quando o assunto é vacinação, 65% consideram a experiência uma situação de estresse moderado a intenso. Já o medo por reações adversas é citado por quase metade dos entrevistados. 24% sentem ansiedade ou nervosismo e 11% chegam até se sentir culpados por acharem estar fazendo os pequenos sofrerem.
Para o infectologista pediátrico Daniel Jarovsky, todos os aspectos estão relacionados com as dificuldades da prematuridade: a grande maioria dos prematuros são internados em UTIs neonatais devido a peso abaixo do esperado, dificuldades respiratórias ou alimentação e, em casos mais graves, até risco de morte. Por isso, o período é marcado por muitos aspectos emocionais e psicológicos.
“Os pais de prematuros carregam uma memória de fragilidade intensa. Quando chega o momento da vacinação, muitos revivem aquele período crítico. Mas é justamente por terem maior risco de infecções graves que os prematuros precisam ser vacinados no tempo certo e com as recomendações específicas”, afirma o especialista.
Importância da vacinação em prematuros
Questionados sobre outras questões relacionadas à proteção vacinal, o levantamento revela que um em cada quatro pais prefere adiar a vacinação para o momento em que a criança fique mais forte – evidências científicas recomendam a proteção precoce o mais rápido possível.
A Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) aponta que uma das principais vacinas para prematuros é a hexavalente acelular. Além de causar menos reações, ela protege contra difteria, tétano, coqueluche (pertussis), poliomielite, hepatite B e infecções causadas pelo Haemophilus influenzae tipo b (como meningite e pneumonia) em apenas uma aplicação.
A dose pode ser encontrada no Sistema Único de Saúde (SUS) para bebês nascidos antes de 33 semanas ou com menos de 1,5kg. Já no mercado privado, é oferecida para todos os bebês. Imunobiológicos para proteção contra o vírus sincicial respiratório (VSR), um dos principais causadores de bronquiolite e pneumonia, também são recomendados.
Por outro lado, atrasos nas vacinas podem ser influenciados por outro fator além do receio: 75% dos pais já tiveram obstáculos para imunizar os filhos, incluindo falta de vacinas, longas filas, horários incompatíveis e ausência de orientação adequada.
Falta de informação
Além do medo, a falta de informação prejudica a cobertura vacinal de prematuros. Segundo o estudo, 36% acham que o calendário segue o mesmo, independente da prematuridade ou não. Apesar de tomarem imunizantes iguais, bebês com a condição devem ter cuidados especiais relacionados à idade gestacional e peso.
Apesar de 70% afirmarem ter recebido informações claras sobre as especificidades vacinais, 24% consideraram as orientações conflitantes ou até mesmo não receberam ajuda.
43% alegaram ter ouvido informações contraditórias de familiares, redes sociais e até mesmo de profissionais de saúde. 28% chegaram a relatar falta de segurança nas palavras ditas por funcionários da área médica sobre a vacinação dos prematuros.
Criado para atender grupos mais vulneráveis, como prematuros, poucos entrevistados conheciam os Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIEs) – apenas 39%. 31% afirmam ter ouvido falar e 30% desconhecem totalmente. Esses locais são responsáveis por dar informações corretas sobre o calendário vacinal de prematuros, tirar dúvidas e fornecer apoio aos pais. 85% dos que conhecem relatam ter sido bem orientados por lá.
“Os bebês prematuros têm necessidades de saúde específicas e urgentes, e isso inclui a imunização no tempo correto e com as recomendações adequadas. Quando quase metade das famílias relata ter recebido orientações contraditórias, fica evidente a necessidade de protocolos unificados e qualificação permanente dos profissionais”, defende Denise Suguitani, diretora executiva da ONG Prematuridade.com.





