Uma nova espécie de joaninha foi identificada nas dunas do São Francisco, no norte da Bahia — uma formação de ecossistemas de Caatinga arenosa entre os municípios de Casa Nova e Pilão Arcado.
O inseto, batizado Mada gregaria, chama a atenção por sua coloração amarelada, ausência de pintas nas asas e comportamentos pouco comuns para joaninhas conhecidas pelo público.
A descoberta foi publicada em 5 de dezembro no periódico científico Annales de la Société entomologique de France e protagonizada por pesquisadores do Centro de Conservação e Manejo de Fauna da Caatinga (Cemafauna), ligado à Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf).
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O que se sabe sobre a nova espécie
Ao contrário das joaninhas mais populares, que costumam ter cores vivas com pintas contrastantes, Mada gregaria apresenta um corpo oval com coloração que varia do amarelo ao castanho-amarelado e não possui as tradicionais pintinhas sobre os élitros — as asas rígidas e externas características dos besouros.
Segundo os pesquisadores, os machos da espécie exibem características genitais específicas que ajudam a diferenciá-la de outras espécies morfologicamente semelhantes, um aspecto essencial em estudos taxonômicos.
A joaninha utiliza como planta hospedeira a Strychnos rubiginosa, conhecida regionalmente por nomes como capitão, bacupari ou esporão-de-galo. Os adultos se alimentam de folhas jovens da planta nativa da Caatinga, as fêmeas depositam ovos na face inferior das folhas (estratégia, que segundo os pesquisadores, protege os ovos de predadores e da radiação solar intensa) e, após a eclosão, as larvas raspam a superfície das folhas para se alimentar.
Comportamento e adaptações ecológicas
Os pesquisadores observaram comportamentos pouco documentados em joaninhas herbívoras: membros adultos de Mada gregaria permaneceram agrupados por meses mesmo na ausência de alimento, sugerindo uma possível estratégia de dormência adaptada às condições ambientais extremas do semiárido.
Essa associação inédita entre uma joaninha herbívora da tribo Epilachnini (família Coccinellidae) e uma planta da família Loganiaceae é relevante porque amplia o espectro de relações planta-inseto conhecidas para esse grupo na região Neotropical — anteriormente, registros conhecidos associavam joaninhas herbívoras apenas a plantas das famílias Aristolochiaceae, Cucurbitaceae e Solanaceae.
Os responsáveis pelo achado destacam que a capacidade de Mada gregaria de se alimentar de uma planta que produz compostos químicos reconhecidamente tóxicos como os alcaloides levanta questões importantes sobre tolerância química, coevolução e adaptações fisiológicas desses insetos ao longo do tempo.
Foto nítida e aproximada da Mada gregaria , nova espécie de joaninha encontrada em dunas no norte da Bahia
A descrição de Mada gregaria representa um avanço significativo para a taxonomia da família Coccinellidae no Brasil e, especialmente, para a compreensão da biodiversidade no bioma Caatinga — uma das regiões mais negligenciadas em termos de levantamento cientifico da fauna.
Segundo o professor Benoit Jean Bernard Jahyny, coordenador do Laboratório de Mirmecologia do Cemafauna e coautor do estudo, encontrar uma espécie nova é relevante, mas “registrar dados completos sobre sua biologia e comportamento torna a descoberta ainda mais valiosa, reforçando a importância de pesquisas de campo em ambientes semiáridos, onde ainda há um vasto patrimônio biológico a ser conhecido” conclui.
