Medicamentos experimentais capazes de aumentar o gasto energético das células estão sendo estudados como uma possível alternativa para o tratamento da obesidade.
A pesquisa, conduzida pela Universidade de Tecnologia de Sydney, na Austrália, em parceria com a Memorial University of Newfoundland, investiga compostos que estimulam as mitocôndrias a trabalharem de forma mais intensa e consumirem mais calorias.
O artigo foi publicado em 2 de dezembro na revista Chemical Science, da Sociedade Real de Química do Reino Unido.
As mitocôndrias são estruturas responsáveis por transformar os alimentos em energia utilizável pelo organismo. Em condições normais, elas convertem nutrientes em ATP, molécula que abastece as funções celulares.
Os pesquisadores buscaram interferir de maneira controlada nesse processo para aumentar o gasto energético, potencialmente favorecendo a perda de peso.
Como funcionam os desacopladores mitocondriais
A equipe concentrou o estudo em substâncias conhecidas como desacopladores mitocondriais. Essas moléculas fazem com que parte da energia normalmente convertida em ATP seja liberada como calor. Para suprir essa demanda, as células passam a consumir mais gordura, aumentando o metabolismo.
“As mitocôndrias são frequentemente chamadas de usinas de energia da célula. Elas transformam os alimentos que você ingere em energia química chamada ATP”, afirma o professor associado Tristan Rawling, principal autor do estudo, em comunicado.
Segundo ele, os desacopladores funcionam como um desvio no sistema. “É como se houvesse um vazamento em uma barragem. Parte da energia é perdida em forma de calor em vez de se transformar em eletricidade”, completa.
A técnica não é totalmente nova. No início do século passado, compostos com efeito semelhante chegaram a ser utilizados para emagrecimento, mas foram proibidos devido à toxicidade.
Um exemplo é o DNP, substância que provocou casos de febre alta e morte entre trabalhadores expostos durante a Primeira Guerra Mundial. A dose necessária para perda de peso e a dose letal eram muito próximas, o que inviabilizou o uso.
Versões mais seguras estão em teste
A inovação do novo estudo está na criação de versões consideradas mais leves desses desacopladores. Ao ajustar a estrutura química das moléculas, os cientistas conseguiram controlar a intensidade do efeito, o que permitiu identificar compostos que aumentam o gasto energético sem causar o superaquecimento e os danos celulares observados no passado.
Alguns dos candidatos testados elevaram a atividade mitocondrial sem interromper a produção de ATP ou prejudicar o funcionamento das células. Essa resposta indica que pode ser possível explorar o princípio de ação de forma mais segura, respeitando um limite tolerável de estresse metabólico.
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Além dos efeitos no gasto calórico, os pesquisadores observaram redução do estresse oxidativo, condição associada ao envelhecimento e a doenças como Alzheimer e Parkinson. Os autores consideram que o achado pode, no futuro, ser explorado em outras aplicações clínicas.
Apesar dos resultados promissores, o trabalho permanece em fase inicial e ainda não há previsão de testes em humanos. Os cientistas ressaltam que será necessário validar a segurança das moléculas e avaliar a eficácia a longo prazo antes de qualquer uso clínico.





