PETAR: guia completo do parque de cavernas ao sul de São Paulo

O Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira (PETAR), a 190 km de Curitiba e a 320 km de São Paulo, não é tão conhecido Brasil afora, mas deveria. Antes de tudo, por fazer parte do maior contínuo de Mata Atlântica remanescente que ainda está em pé – um lugar onde a floresta é densa, fértil, biodiversa e exuberante.

Depois, porque a região do PETAR abrange um dos maiores patrimônios espeleológicos do Brasil, com mais de 400 cavernas cadastradas, sendo 12 delas abertas à visitação. Essas formações são compostas de rochas calcárias e têm as mais variadas formas, de simples entradas subterrâneas a abismos profundos.

O maior público do PETAR é o escolar. Lembro bem quando minha turma da sétima série fez uma excursão ao parque; mas, como eu fiquei de fora dessa, só fui conhecer as cavernas já adulta, em uma viagem com meus pais, irmã e namorado. Era julho, e aí já viu: eramos a única família sem crianças da pousada, onde dividimos um quarto com beliches. Foi divertidíssimo.

Nos dias seguintes, ficou claro porque o PETAR faz sucesso com a moçada, mas não só: o passeio pelos diferentes núcleos do parque permite percorrer a nata do ecoturismo no Brasil.

PETAR guarda aventuras em cavernas gigantescasGoverno do Estado de São Paulo/Reprodução

Um mundo subterrâneo cheio de surpresas

Cada caverna é uma nova aventura, um universo de salões, lagos subterrâneos e túneis que por vezes requerem do corpo manobras improváveis. Poucas delas desagradam os claustrofóbicos, como eu, vale dizer: a maioria tem ambientes amplos e teto alto. Algumas, você atravessa a pé e a nado; outras, subindo e descendo pequenas escadas de madeira colocadas para facilitar a visitação.

Pelas paredes, há milhares de espeleotemas, como são chamadas as formações rochosas criadas pela sedimentação e cristalização de minerais dissolvidos na água, como colunas, estalactites, estalagmites, helictites e heligmites. No PETAR, você se familiariza com esse vocabulário enquanto o guia aponta formas que parecem Torre de Pisa, pés de elefante, dedos de bruxa e fatias de bacon e por aí vai.

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A fauna especialíssima da floresta embala o passeio de várias maneiras. Entre agosto e dezembro, por exemplo, soa o canto estridente da araponga, uma das vozes mais potentes da Mata Atlântica, chamada de musa do PETAR.

Entre uma caverna e outra, você ainda ganha uma aula sobre espécies nativas, toma banho e faz boia cross nas águas cristalinas do Rio Betari e ainda visita cachoeiras belíssimas, dentro do parque e em áreas vizinhas, como o Vale das Ostras. À noite, descansa ao redor de uma fogueira sob o céu estrelado e o silêncio da floresta, que impera, mesmo com a presença da criançada. O PETAR é vasto e para todos.

Como visitar o PETAR

O parque tem regras rígidas de visitação. É obrigatória a entrada com sapato fechado, calça comprida e camiseta que cubra os ombros. Visitantes devem ser acompanhados por guias (que comumente contam histórias sobre como brincavam de esconde-esconde nas cavernas na infância) — um monitor ambiental para cada oito pessoas. Mesmo sendo alta temporada, não vi muvuca pelo fato de serem grupos pequenos e por haver intervalos de visita entre cada caverna – e o local é enorme.

Para visitar o PETAR você deve entrar em contato com uma agência local. Os passeios são organizados conforme a sua disponibilidade de tempo: aliás, recomendo que fique pelo menos quatro dias inteiros. Entre as empresas, há a Parque Aventuras, a Mono Turismo & Aventura e a Ipotur. Você vai com o próprio veículo até o local de encontro com o guia no horário combinado. É recomendado sempre levar um lanche na mochila para passar o dia.

Bairro da Serra, onde fica a maioria das pousadas no PETARPETAR/Divulgação

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Quando ir ao PETAR

O verão é mais agradável para curtir as atividades aquáticas e as cachoeiras, mas as chuvas podem eventualmente atrapalhar o passeio e inviabilizar a entrada em algumas cavernas. Entre abril e outubro, o tempo é mais firme. Nos meses mais frios é mais doído entrar na água, mas ainda assim dá para aproveitar bastante.

O que fazer no PETAR

Núcleo Santana: Caverna Santana, Caverna do Morro Preto e Caverna do Couto

O Núcleo Santana é o mais visitado do PETAR. A Caverna de Santana, que dá nome à área, é uma das maiores e mais ornamentadas o guia mostra vários espeleotemas com formas bizarras e, em dado momento, desliga a lanterna para que o grupo experimente a escuridão total do interior da caverna.

Depois de cruzar o Rio Betari, de águas clarinhas, chega-se à Caverna do Morro Preto as trilhas entre essas cavernas são curtas e planas. O pórtico de mais de 15 metros de altura fica bonito nas fotos. Caminhando pelo interior, há um salão chamado “anfiteatro”, cartão-postal do PETAR, onde um feixe de luz penetra e ilumina as formações da caverna. 

A mesma trilha leva à Caverna do Couto, que é antecedida por uma cachoeira. É preciso se abaixar e descer por uma pequena escada para entrar lá dentro, o caminho segue junto a um riacho. A escuridão de repente se esvai em uma grande abertura com a mata de fundo, que sinaliza a saída da caverna.

Dentro das cavernas há pouquíssima vida, só bagres minúsculos (quando há água), morcegos e opiliões, um aracnídeo com pernas bem compridas que solta um cheiro ruim quando se sente ameaçado. Embora assustadores, são inofensivos aos humanos (aranhofóbicos pode ficar tranquilos).

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Piscina natural na Caverna de SantanaLuan Alves Chaves/Wikimedia Commons

Núcleo Santana: Trilha do Rio Betari, Cachoeira Água Suja e Cachoeiras Andorinhas e Beija-Flor

Este dia de passeio é bem “molhado”, porque segue por cerca de 6 km pelo Vale do Rio Betari, entre pedras, mata ciliar e vários trechos em que é preciso atravessar o curso d’água. As belezas da floresta chamam a atenção, em um “caleidoscópio” de formatos de folhas, caules, troncos e tons de verde.

A primeira parada é na Caverna Água Suja, onde é preciso deixar as mochilas e entrar na água, que vai até o peito em alguns trechos. É uma experiência surreal atravessar a nado os corredores com enormes estalactites que se abrem em salões com até 30 metros de altura. No fim, há uma pequena queda d’água.

A trilha continua até a Cachoeira das Andorinhas. Mais uma vez, você deixa os pertences no seco e entra na água para chegar perto da queda, com 35 metros, que cai dentro de um cânion – uma paisagem incrível. A apenas 100 metros fica a Cachoeira Beija-Flor, com outro poço gostoso para tomar banho.

Com tempo, alguns guias ainda param na Caverna do Cafezal, na mesma trilha. Essa é uma caverna seca e de trajeto curto, cerca de 45 minutos de passeio. 

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Núcleo Ouro Grosso: Caverna Ouro Grosso, Caverna Alambari de Baixo e Boia-cross no Rio Betari

Esse núcleo também tem entrada pelo Bairro da Serra. No centro de visitantes, há uma casa de farinha, um monjolo e uma moenda de cana antigos. Depois, adentra-se a mata por uma trilha e degraus de madeira, passando por um enorme tronco de pau d’alho, ou guararema, árvore centenária que cresceu ali apoiada em uma rocha.

A Caverna Ouro Grosso foi a única que me deu aflição pela estreiteza da entrada. Superado o medo inicial, fui entrando e observando as formações rochosas até dar em um poço e uma queda d’água, onde dá para tomar banho. 

Depois, há parada na Caverna Alambari de Baixo. A entrada é uma descida, e a boca da caverna parece te engolir. O guia conta que já houve uma cerimônia de casamento ali dentro. O conceito de romantismo pode ser bem elástico, pensei. O grupo segue pela escuridão até um trecho onde surge água. Aí, mais aventura: é preciso entrar com o corpo todo e ir segurando uma corda por um túnel até uma abertura que indica o fim da caverna.

Se o nível da água estiver adequado para a atividade, é possível praticar boia cross, subindo em boias e descendo pela correnteza do Rio Betari.

 

Caverna do Diabo, Vale das Ostras e Queda de Meu Deus

A Caverna do Diabo, uma das maiores do Brasil, não é parte do PETAR, e sim do Parque Estadual Caverna do Diabo, em Eldorado (SP). Do Bairro da Serra de Iporanga até lá são 48 km, um deslocamento considerável, mas muito válido.

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A caverna foi aberta ao público nos anos 1970. Dessa vez, foi minha mãe que lembrou de uma excursão escolar até ali. Eram outros tempos: a visitação foi pensada com muito mais intervenções humanas, botaram escadarias, rampas, corrimões e uma iluminação colorida meio cafona. Ainda assim, os salões são bastante impressionantes, com imensas colunas calcíticas e uma infinidade de espeleotemas. E a estrutura torna a caverna mais amigável a pessoas com dificuldade de locomoção e cadeirantes.

Quem quiser conhecer parte mais “virgens” da caverna pode agendar previamente o Roteiro do Rio, no qual você caminha pela água e vai até a cachoeira subterrânea Garganta do Diabo.

No mesmo dia, dá para conhecer o Vale das Ostras, formado pelo Ribeirão das Ostras, o mesmo que atravessa a Caverna do Diabo. Depois que sai da caverna, ele serpenteia pela mata formando várias cachoeiras até desaguar no rio Ribeira de Iguape. São 7 km de trilha na mata com paradas para relaxar nos poços. O auge do passeio é a Cachoeira de Meu Deus, com 53 metros – ao ficar frente à queda entendi a razão do nome.

Interior da Caverna do Diabo, em Eldorado (SP)Creative Commons/Ricardo Rollo/Reprodução

Núcleo Caboclos

Esse núcleo, que fica a 40 km do centro de Apiaí (e a 60 km do Bairro da Serra), costuma ficar de fora dos roteiros mais curtos no PETAR. Não fui até lá, mas dizem que a Caverna Temimina é uma das mais bonitas da região. Formada por um dolinamento (desabamento do teto), ela exibe um espeleotema muito raro chamado “chuveiro”, que forma uma espécie de ducha que cai do teto. Isso sem falar da imensa claraboia que permite a entrada de luz e a formação de um “jardim suspenso” perto da entrada da caverna.

Outro passeio procurado ali é a trilha ao pórtico da Caverna Casa de Pedra, um caminho pela mata fechada com cerca de 6,5 quilômetros. Trata-se de um pórtico de 215 metros de altura, considerada como a maior abertura de caverna do mundo, em plena Mata Atlântica. Perto, o Rio Maximiano forma uma piscina natural e uma cachoeira. A entrada na caverna não é permitida, só é possível vê-la de fora.

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Reserva Betary

A reserva protege uma área de 60 hectares de Mata Atlântica, onde funciona um instituto de pesquisa. Visitantes podem agendar um horário para conhecer o trabalho dos pesquisadores (entre uma estufa de plantas, um aquário, um laboratório e outros locais) e percorrer duas trilhas (uma delas com poço para banho). O passeio mais legal rola entre outubro e março, quando é possível participar de uma busca ativa por organismos bioluminescentes nas trilhas durante a noite.

Palmitolândia

O lugar propõe uma série de experiências em uma das maiores plantações de palmito-pupunha de Iporanga. Você pode fazer um passeio guiado pela plantação e ainda escolher um palmito para cortar. Depois, descobre como prepará-lo e em seguida tem um almoço. Também é possível fazer trilha pelo Rio das Pedras e até acampar no palmital.

Quilombo Ivaporunduva

O Vale do Ribeira guarda o maior número de comunidades remanescentes de quilombos de todo o estado de São Paulo. O Ivaporunduva organiza experiências turísticas que incluem palestra com uma liderança local, oficina de artesanato, visita ao bananal orgânico, almoço em casa de família, contação de histórias e outras atividades. É preciso agendar com antecedência peça para a sua agência no PETAR entrar em contato.

Onde ficar e comer no PETAR

A maior parte das pousadas fica no Bairro da Serra, na cidade de Iporanga (SP), que tem localização estratégica para visitar dois dos núcleos do parque. Pela escassez de opções de restaurantes, as refeições costumam ser feitas nas pousadas.

As hospedagens são simples. A única com algum grau de sofisticação é o Glamping Mangarito, com bangalôs novos e bem decorados em meio à mata, além de serviço de massagem, piscina e ofurô. 

Gampling Mangarito é uma opção para relaxar após um dia de trilhas e aventuras nas cavernasBooking/Divulgação

A Pousada das Cavernas, onde eu fiquei, tem uma ótima área verde, com piscina natural e sauna. A comida é caseira e o restaurante tem uma área externa agradável (de manhã, um comedouro atrai muitos passarinhos; de noite, acendem fogueira).

Outras opções são a Pousada da Diva, uma das primeiras do PETAR, com atendimento familiar e refeições bem fartas, e a Pousada Rancho da Serra, perto do Núcleo Ouro Grosso, com café da manhã com produtos feitos na casa.

Já mais perto do centro de Iporanga, o que significa deslocamentos de carro um pouco mais longos para ir às cavernas, tem a Gamboa Eco Refugio Pousada, com uma bela área externa com piscina, jardim e redário, e a Pousada Núcleo Terra Iporanga, que também é agência de passeios.

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