Este ano representou um salto expressivo para a astronomia moderna. O número de confirmações de exoplanetas – mundos que orbitam estrelas fora do nosso sistema solar – ultrapassou a marca de 6.000 no catálogo da NASA. Além disso, vários milhares de candidatos seguem em análise, indicando que esse total continuará crescendo.
Isso é resultado de pouco mais de três décadas de avanços científicos desde a descoberta, em 1995, de 51 Pegasi b, o primeiro planeta orbitando uma estrela semelhante ao Sol. O achado, que rendeu um Prêmio Nobel, inaugurou uma nova área da pesquisa astronômica e transformou a forma como a humanidade observa o cosmos.
Comparação do exoplaneta 51 Pegasi b com Júpiter. O primeiro exoplaneta descoberto é 47% menos massivo, mas 50% maior que o maior planeta do Sistema Solar. Crédito: NASA/JPL-Caltech
Desde então, a busca por mundos fora do Sistema Solar passou a contar com telescópios espaciais dedicados a essa missão. Entre os mais importantes estão o telescópio Kepler, já aposentado após quase nove anos de operação, e o Satélite de Pesquisa de Exoplanetas em Trânsito (TESS), que segue ativo, ambos da NASA.
Esse tipo de equipamento monitora o brilho de milhares de estrelas ao mesmo tempo. Quando um planeta passa na frente da estrela que orbita, ocorre uma leve queda na luminosidade, sinal que pode ser detectado e analisado pelos astrônomos ao longo do tempo.
Com o acúmulo de dados, a compreensão da Via Láctea se expandiu rapidamente. Hoje se sabe que planetas são comuns na galáxia e que muitos sistemas planetários diferem profundamente daquele formado ao redor do Sol. Antes considerado um modelo padrão, o sistema solar revelou-se apenas uma entre muitas configurações possíveis. Em diversos casos, os planetas apresentam órbitas inclinadas, trajetórias instáveis ou proximidade extrema com suas estrelas.
Além disso, surgiram classes inteiras de mundos sem equivalentes diretos no nosso entorno cósmico. Entre eles estão:
as super-Terras, maiores que o nosso planeta, mas menores que Netuno;
os mini-Netunos, ricos em gases;
os Júpiteres quentes, gigantes gasosos que orbitam muito perto de suas estrelas, desafiando modelos clássicos de formação planetária, que previam gigantes apenas em regiões mais distantes.
Descobertas recentes obrigaram os cientistas a revisar teorias consolidadas. Em muitos sistemas, os planetas parecem ter migrado após a formação, alterando completamente a arquitetura original ao seu redor.
Representação artística do caçador de exoplanetas TESS, da NASA. Crédito: NASA
Ao longo de 2025, vários exoplanetas se destacaram por suas características incomuns. Juntos, esses mundos ajudam a ilustrar tanto o avanço da ciência quanto os desafios que ainda permanecem.
Entre os casos mais curiosos estão os planetas que orbitam dois sóis, popularmente chamados de mundos “tipo Tatooine”. Ao longo do ano, novos exemplos desse tipo foram confirmados por observações detalhadas. Esses planetas giram em torno de sistemas binários, formados por duas estrelas que orbitam uma à outra. Durante muito tempo, acreditou-se que esses ambientes seriam instáveis demais para permitir a formação planetária.
Mundos “Tatooine”: planetas que orbitam dois sóis ao mesmo tempo
Um dos exemplos desse tipo anunciados em 2025 foi o planeta 2M1510 (AB) b, que orbita duas anãs marrons, objetos conhecidos como “estrelas fracassadas” por não possuírem massa suficiente para sustentar fusão nuclear.
Localizado a cerca de 120 anos-luz da Terra, o planeta segue uma órbita altamente inclinada. Em vez de permanecer no plano das estrelas, ele se move acima e abaixo de seus polos.
Imagem revela 2M1510 AB, um par de anãs marrons (A e B) que orbitam entre si. Elas são vistas como uma só, mas os astrônomos sabem que são duas porque elas se eclipsam periodicamente. Este sistema contém uma terceira anã marrom, 2M1510 C, que está localizada muito longe para ser responsável por perturbações gravitacionais observadas. Crédito: Pesquisa de Legado DESI / D. Lang (Instituto Perimetral)
A existência desse mundo foi inferida a partir de observações feitas com o Very Large Telescope (VLT), no Chile, quando astrônomos detectaram oscilações inesperadas nas órbitas das anãs marrons.
Segundo os pesquisadores, essas variações só poderiam ser explicadas pela influência gravitacional de um planeta oculto. A hipótese mais provável é que um encontro estelar antigo tenha desorganizado o sistema.
Ainda este ano, outra equipe identificou três planetas do tamanho da Terra orbitando o sistema binário compacto TOI-2267, localizado a apenas 73 anos-luz. Os dados do TESS mostraram que os três mundos transitam diante das duas estrelas. A descoberta surpreendeu os cientistas, já que sistemas tão compactos costumam ser considerados instáveis.
Outro achado relevante envolveu o planeta HD 143811 (AB) b, identificado em dados de arquivo por duas equipes independentes. O mundo foi confirmado por imagens diretas feitas com o Gemini Planet Imager, um instrumento especializado em observar diretamente exoplanetas ao redor de estrelas jovens, instalado no telescópio Gemini Sul, também no Chile.
Imagem mostra HD 143811 AB b, um companheiro subestelar orbitando um sistema binário. O objeto foi observado com o Gemini Planet Imager e o Keck NIRC2, em 2016 e 2019, na região de formação estelar Sco-Cen, a cerca de 430 milissegundos de arco da estrela. Crédito: Nathalie K. Jones et al.
Com cerca de seis vezes a massa de Júpiter, o planeta orbita um sistema binário jovem a aproximadamente 446 anos-luz. Apesar do tamanho, esse mundo tem apenas 13 milhões de anos. Enquanto as estrelas completam uma órbita mútua a cada 18 dias, ele leva cerca de 300 anos para circundá-las.
Exoplaneta apresenta possíveis sinais de vida
Outro exoplaneta que dominou as manchetes em 2025 foi K2-18b. Descoberto há 10 anos, o mundo alienígena voltou ao centro das atenções após alegações de possíveis sinais químicos associados à vida.
Em abril, uma equipe da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, anunciou a detecção de gases compatíveis com sulfeto de dimetila na atmosfera do planeta, usando dados do Telescópio Espacial James Webb (JWST), da NASA. Na Terra, esse gás está fortemente ligado à atividade biológica marinha. Por isso, os pesquisadores sugeriram que K2-18b poderia ser um mundo coberto por oceanos.
O planeta K2-18b é coberto por um oceano e tem cerca de 2,6 vezes o tamanho da Terra, sendo classificado como um superterra. Crédito: Reprodução/Redes Sociais
Pouco depois, análises independentes contestaram essa interpretação. Outros estudos mostraram que gases não biológicos poderiam produzir sinais semelhantes. Além disso, alguns pesquisadores destacaram que os dados disponíveis ainda apresentam ruído elevado. Isso dificulta conclusões definitivas sobre a presença de bioassinaturas.
Apesar da controvérsia, K2-18b segue como um alvo importante. Ele pertence à classe dos sub-Netunos, planetas comuns na galáxia, mas ausentes no Sistema Solar.
Leia mais:
Cientistas registram 51 imagens de exoplanetas em formação
Quais exoplanetas podem abrigar vida?
Planeta é consumido aos pedaços por estrela anã branca “zumbi”
Outras descobertas de destaque em 2025
Outro mundo que gerou expectativas foi TRAPPIST-1e, um planeta do tamanho da Terra que orbita uma anã vermelha a cerca de 40 anos-luz. Novas análises indicaram que o planeta pode não possuir uma atmosfera espessa. Isso reduz as chances de água líquida estável em sua superfície.
Observações iniciais sugeriram metano, mas estudos posteriores apontaram contaminação causada pela própria estrela. Simulações indicam rápida destruição desse gás. O caso reforça as dificuldades envolvidas na busca por mundos habitáveis. Mesmo alvos promissores podem frustrar expectativas iniciais.
Ilustração dos exoplanetas do sistema TRAPPIST-1. Crédito: NASA
Em 2025, avanços também ocorreram no estudo de Proxima Centauri, a estrela mais próxima do Sol, situada a 4,2 anos-luz. Astrônomos confirmaram com maior precisão a existência de Proxima b, um planeta rochoso na zona habitável, além de Proxima d. O estudo também ajudou a descartar a existência de um terceiro planeta sugerido anteriormente.
Outros destaques do ano envolveram mundos em desintegração, que orbitam tão perto de suas estrelas que perdem material constantemente. Um exemplo é BD+05 4868 Ab, detectado a cerca de 140 anos-luz, que completa uma órbita em apenas 30,5 horas.
O calor extremo vaporiza a superfície do objeto, formando uma cauda de poeira semelhante à de um cometa, com milhões de quilômetros de extensão. Estimativas indicam que o planeta pode desaparecer em até dois milhões de anos, um instante em termos cósmicos.
Impressão artística mostra o estágio em que o planeta Tylos (WASP-121b) acumulou a maior parte de seu gás, conforme inferido a partir dos resultados mais recentes captados pelo James Webb. Crédito: © T. Müller (MPIA/HdA – CC BY-SA)
Outro caso envolve o gigante gasoso WASP-121b, que está perdendo sua atmosfera, formando enormes caudas de hélio detectadas pelo JWST. As observações mostram como os planetas podem nascer, evoluir e até desaparecer em escalas de tempo muito diferentes das humanas.
Juntas, as descobertas de 2025 reforçam a ideia de que a galáxia é muito mais diversa do que se imaginava. Cada novo mundo amplia o entendimento sobre como os planetas se formam e sobrevivem em ambientes extremos.
O post Descobertas de exoplanetas em 2025 reforçam a diversidade do Universo apareceu primeiro em Olhar Digital.






