A escassez de órgãos disponíveis para transplante é um problema mundial que fica claro com as longas filas de pessoas que esperam por um órgão. Uma das soluções mais promissoras em estudo é o xenotransplante — o uso de órgãos de animais, como porcos, em humanos. No entanto, o principal obstáculo é a rejeição do órgão pelo sistema imunológico humano.
Para acender a esperança de muitos, cientistas conseguiram um avanço inédito: criaram o mapa molecular mais detalhado da resposta imunológica humana contra um rim de porco transplantado. O trabalho pode, no futuro, permitir o desenvolvimento de tratamentos que impeçam essa rejeição — e, com isso, tornar o xenotransplante uma alternativa viável.
Leia também
Cientistas do Japão criam porcos para transplante de órgãos em humanos
Mãe doa órgãos do filho: “Não queria outra família passando por isso”
Só uma a cada três famílias autoriza a doação de órgãos, diz estudo
Após sofrer cólicas intensas, jovem descobre ter 5 órgãos extras
A pesquisa foi liderada pelo nefrologista Valetim Goutaudier, especialista em transplante, em colaboração entre o Instituto de Transplantação e Regeneração de Órgãos de Paris e o Instituto de Transplantes Langone, da Universidade de Nova York (NYU). Os resultados foram apresentados no Congresso da Sociedade Europeia de Transplantes de Órgãos (ESOT 2025), um dos principais eventos científicos sobre o tema.
O que é xenotransplante ?
Xenotransplante é o transplante de órgãos, tecidos ou células de uma espécie para outra, geralmente de animais para humanos.
Estudo revela como o sistema imunológico humano interage com um rim de porco transplantado.
Cientistas descobriram como enfraquecer o ataque imunológico contra o órgão animal.
A técnica ainda pode ser uma solução para a escassez de órgãos disponíveis para transplante.
Utilizando uma tecnologia de ponta chamada imagem molecular espacial, os pesquisadores conseguiram observar, com altíssima precisão, a reação do corpo humano ao receber o órgão animal — como se estivessem acompanhando por um GPS o que ocorre entre o sistema imunológico e o rim transplantado.
Na prática, o mapa mostra o processo de rejeição imunológica, quando o corpo reconhece o órgão como “estranho” e tenta destruí-lo.
O ponto mais relevante do estudo é a identificação dos principais “soldados” do sistema imune: macrófagos e células mieloides, que invadem o rim e desencadeiam o processo de rejeição. “Nosso estudo fornece o mapa molecular mais detalhado até hoje de como o sistema imunológico humano interage com um rim de porco transplantado”, explica Goutaudier em entrevista ao site Science Daily.
Além disso, os cientistas detectaram sinais precoces de rejeição já no 10º dia após o transplante, com um pico no 33º dia — reforçando a ideia de que, embora a resposta imunológica comece rapidamente, ela evolui gradualmente.
O monitoramento se estendeu até 61 dias. Mais do que observar, os pesquisadores também testaram intervenções terapêuticas direcionadas para bloquear o ataque imunológico. Ao identificar quais células causam o problema e em que regiões do órgão elas atuam, foi possível aplicar medicamentos que suprimem a rejeição diretamente sem comprometer todo o sistema imunológico do paciente.
O avanço chega em um momento crucial, já que os primeiros testes clínicos com rins de porco em pacientes vivos começaram recentemente nos Estados Unidos. A descoberta estabelece uma base científica sólida para tornar os xenotransplantes mais seguros e eficazes — e oferece esperança concreta para milhares de pessoas que aguardam por um órgão compatível.
Siga a editoria de Saúde e Ciência no Instagram e fique por dentro de tudo sobre o assunto!