Tempestades solares podem elevar risco de infarto em mulheres. Entenda

Um novo estudo publicado na revista Communications Medicine aponta uma possível ligação entre tempestades solares e o aumento de infartos do miocárdio, especialmente entre mulheres.

A pesquisa, publicada na última terça-feira (1º/7), analisou dados da rede pública de saúde de São José dos Campos (SP), entre 1998 e 2005, período de intensa atividade solar, e cruzou essas informações com registros de variações no campo magnético da Terra.

O grupo de pesquisadores, ligado ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), comparou os dias classificados como geomagneticamente calmos, moderados ou perturbados e avaliou 1.340 internações por infarto, sendo 871 em homens e 469 em mulheres.

Sinais de infarto

O infarto do miocárdio, ou ataque cardíaco, é causado pela formação de um coágulo que interrompe o fluxo sanguíneo de forma súbita e intensa.
Ele pode ocorrer em diversas partes do coração, dependendo de qual artéria foi obstruída.
Os sintomas incluem: dores no peito, pescoço, braços, costas e estômago; mal estar generalizado; sudorese; náuseas e vômito.
Todos esses sintomas costumam durar de 10 a 20 minutos e podem ser sinais de um possível infarto agudo.
Ao perceber qualquer sinal de infarto, é preciso procurar atendimento médico imediatamente.

Embora o número absoluto de casos tenha sido maior entre os homens, os cientistas observaram um aumento proporcional expressivo entre as mulheres em dias de maior instabilidade magnética.

Na faixa etária entre 31 e 60 anos, a frequência de infartos foi até três vezes maior em dias com perturbações geomagnéticas, em comparação com os dias mais calmos.

“O que observamos foi uma diferença significativa para as mulheres, especialmente nessa faixa etária. Os dados sugerem uma maior suscetibilidade feminina às variações do campo magnético terrestre”, afirma Luiz Felipe Campos de Rezende, principal autor do estudo, em comunicado.

Efeitos solares no corpo ainda são pouco compreendidos

As perturbações geomagnéticas são causadas pelo impacto do vento solar sobre a magnetosfera – a camada da atmosfera terrestre onde o campo magnético interage com partículas vindas do Sol.

Esses eventos costumam afetar sistemas de comunicação por satélite e GPS, mas estudos anteriores já indicavam que também poderiam interferir na saúde humana.

Pesquisas feitas em países do hemisfério Norte desde os anos 1970 sugerem que essas instabilidades podem provocar alterações na pressão arterial, no ritmo cardíaco e até no ciclo circadiano (responsável por regular o sono e outras funções do organismo). No entanto, ainda não há consenso científico sobre esse efeitos.

Esse é o primeiro estudo a investigar o fenômeno em uma cidade brasileira, e, embora os resultados não sejam conclusivos, os autores consideram que os dados merecem atenção.

“É um achado empírico que pode ter relevância científica, mesmo com limitações como o recorte geográfico e o tamanho da amostra”, diz Rezende.

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A pesquisa também levanta uma questão inédita sobre a possível maior vulnerabilidade das mulheres aos distúrbios geomagnéticos. Os motivos para essa diferença ainda não são conhecidos. “Não encontramos na literatura explicações consolidadas para isso. É uma questão para estudos futuros”, afirma o pesquisador.

Tempestades solares ainda são difíceis de prever

A atividade magnética do Sol segue um ciclo de cerca de 11 anos, com fases de maior e menor intensidades. O atual ciclo entrou recentemente no chamado “máximo solar”, período em que há mais emissões de partículas pela estrela.

A expectativa é que 2025 continue sendo um ano de alta atividade.

Apesar disso, os episódios de perturbação no campo magnético da Terra são esporádicos e, até o momento, difíceis de prever com precisão. O Inpe mantém uma plataforma de monitoramento em tempo real dessas variações, mas a previsão ainda é limitada.

Segundo Rezende, à medida que a ciência avance na capacidade de antecipar esses eventos – e se a relação com os problemas cardíacos for confirmada –, será possível pensar em estratégias de prevenção.

“Isso pode ser especialmente importante para pessoas com doenças cardiovasculares já diagnosticadas”, conclui.

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