Cientistas investigaram as espessas camadas de argila existentes em Marte, concluindo que esses ambientes poderiam ter sido favoráveis à vida no passado do planeta.
Conduzida por uma equipe da Universidade do Texas, nos EUA, a pesquisa utilizou dados da sonda Mars Reconnaissance Orbiter (MRO), da NASA, para analisar 150 depósitos de argila espalhados pela superfície marciana.
Os resultados, publicados na revista Nature Astronomy, indicam que a maior parte dessas camadas se formou próximo a antigos lagos, onde a água permanecia parada por longos períodos. Esses ambientes estagnados permitiram reações químicas que transformaram minerais do solo em argila, criando depósitos volumosos e ricos em minerais.
Representação artística da sonda Mars Reconnaissance Orbiter (MRO), da NASA, que orbita MArte desde 2006. Crédito: Merlin74 – Shutterstock
Estabilidade do ambiente ajudou a preservar a argila marciana
A pesquisadora de pós-doutorado Rhianna Moore, autora principal do estudo, explica em um comunicado que a estabilidade dessas regiões, que possuem baixa altitude e pouca variação no relevo, favoreceu a preservação dessas camadas ao longo do tempo. Essa invariabilidade pode ter sido essencial para manter condições ambientais adequadas para o desenvolvimento da vida em Marte.
Há bilhões de anos, Marte tinha um clima mais úmido e uma atmosfera capaz de manter água líquida na superfície. Rios, lagos e ambientes aquáticos foram comuns, moldando a paisagem e possibilitando processos geológicos que hoje são estudados a partir das camadas de argila.
Mapa mostrando a localização dos depósitos de argila em Marte, juntamente com outras características geológicas examinadas pelos pesquisadores. Crédito: Moore et al.
Tim Goudge, professor assistente do Departamento de Ciências da Terra e Planetárias e coautor do estudo, compara o ambiente argiloso de Marte ao das regiões tropicais do nosso planeta. “Na Terra, os locais onde tendemos a observar as sequências de minerais de argila mais espessas são aqueles em ambientes úmidos e com erosão física mínima, capazes de remover produtos de intemperismo recém-formados”, disse ele. “Esses resultados sugerem que o último elemento também é verdadeiro em Marte, embora também haja indícios do primeiro”.
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Camadas de argila alteraram a química e o ciclo de carbono em Marte
Um fator importante para a composição química dessas regiões é a ausência de placas tectônicas em Marte. Diferentemente da Terra, onde o movimento das placas renova o solo e permite reações entre rochas, água e dióxido de carbono que ajudam a regular o clima, Marte não tem esse mecanismo.
Essa falta de renovação pode ter contribuído para a permanência prolongada de gases de efeito estufa na atmosfera marciana, tornando o planeta mais quente e úmido em seu passado antigo. Também pode explicar a escassez de rochas carbonáticas em Marte, que na Terra se formam pela reação entre dióxido de carbono e minerais vulcânicos.
Imagens da sonda Mars Reconnaissance Orbiter (MRO), da NASA, mostram depósitos de argila espalhadas por Marte, sugerindo um passado de calor e umidade prolongados. Crédito: NASA/JPL-Caltech/JHUAPL
A formação contínua das argilas teria “capturado” minerais que, na Terra, participariam da formação desses carbonatos, alterando a química do planeta e seu ciclo de carbono.
Financiado pela NASA e pelo Instituto Canadense de Pesquisa Avançada, esse estudo representa um avanço importante na compreensão das condições ambientais que existiram em Marte há bilhões de anos, oferecendo pistas sobre a possibilidade de vida no passado do planeta.
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