Presentes em oceanos, solos, alimentos e até no ar que respiramos, os microplásticos representam uma das ameaças mais preocupantes para o meio ambiente e a saúde humana. As minúsculas partículas, com até cinco milímetros de diâmetro, são resultado da degradação de plásticos maiores ou produzidas intencionalmente em tamanhos menores em embalagens de cosméticos ou produtos de higiene.
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Nos oceanos, o problema é grave, pois afeta diretamente a cadeia alimentar marinha. O processo começa quando plânctons e peixes menores, que são a base do fluxo alimentar dos mares, ingerem microplásticos. Eles são contaminados pelas substâncias tóxicas liberadas pelas partículas e acabam infectando cada nível alimentício oceânico.
Os microplásticos também são facilmente confundidos com alimento por muitos animais maiores. Não é incomum encontrar peixes, tartarugas ou aves que sobrevoam ambientes marinhos ingerindo as mini partículas. O consumo delas pode causar sufocamento, desnutrição ou até a morte, além de levar a alterações no comportamento dos animais, prejudicando a capacidade de encontrar alimentos e atrapalhando processos importantes, como a reprodução.
“O plástico prejudica ecossistemas inteiros”, alerta o professor de ciências biológicas Fábio Samuel Valerio, do Colégio Católica Machado de Assis, em Santa Catarina.
Como os microplásticos vão parar no oceano
Lavagem de roupas: fibras sintéticas das roupas se desprendem durante a lavagem e vão parar no esgoto.
Cosméticos e produtos de higiene: alguns produtos contêm partículas de plástico que são enviadas para o esgoto após o uso.
Tintas e vernizes: tintas látex e acrílicas podem se desprender da superfície e ir parar nos oceanos.
Pneus: o atrito entre os pneus e as estradas libera partículas de polímeros sintéticos, que podem ser levados por chuvas ou sistema de drenagem aos oceanos.
Descarte incorreto de plásticos: resíduos plásticos descartados incorretamente podem se fragmentar em forma de microplásticos e serem levados pelas chuvas aos oceanos.
Do mar para a terra
Além de serem invisíveis a olho nu, as partículas têm capacidade de se infiltrar em praticamente todos os ambientes do planeta. A ingestão do poluente pelos animais tem impactos diretos na cadeia alimentar e acaba nos afetando. Os seres humanos consomem microplásticos sem perceber, por meio de alimentos ou água contaminados.
Microplásticos estão presentes em diversas atividades cotidianas dos seres humanos
Estudos já identificaram fragmentos em órgãos humanos, incluindo o cérebro, levantando preocupações sobre os possíveis danos causados pelos microplásticos dentro do organismo humano. O perigo está presente pela capacidade dos microplásticos de atuar como esponjas para poluentes tóxicos – como metais pesados e pesticidas –, carregando essas substâncias para dentro do corpo humano.
“As partículas de plástico na natureza carregam substâncias tóxicas associadas a problemas hormonais, infertilidade, distúrbios neurológicos e até câncer”, alerta Fábio. A presença dos plásticos no organismo ainda pode causar inflamações, lesões celulares e reações alérgicas.
O que fazer para resolver o problema?
Apesar do avanço dos microplásticos, a remoção dos produtos dos oceanos ainda está muito longe de ser resolvida. Pesquisas em andamento estão focadas em tecnologias como filtragem, aerogéis e até métodos biológicos, mas ainda estão fases experimentais.
Atualmente, a principal medida para reduzir o problema é a prevenção. Reduzir o consumo de plásticos, substituir sacolas plásticas por reutilizáveis, usar garrafas e copos duráveis, além de escolher produtos biodegradáveis são atitudes que parecem simples, mas que fazem a diferença.
“É fundamental entender que os microplásticos são um problema complicado de resolver, que requer ações conjuntas de indivíduos, empresas e governos. Ao trabalhar juntos, podemos reduzir a quantidade de microplásticos nos oceanos e suavizar seus efeitos negativos no meio ambiente e na saúde humana”, finaliza a professora de biologia Luciana Sipoli, da Escola Atual, em Brasília.
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