Construção de represas mexe com o equilíbrio da Terra, diz estudo

Um novo estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, mostrou que a construção de milhares de represas desde 1835 fez os polos da Terra oscilarem, mexendo com o equilíbrio do planeta. A pesquisa foi publicada em maio na revista científica Geophysical Research Letters.

Leia também

Mundo

Terra gira mais rápido e este 9/7 será o dia mais curto da história

Ciência

Impacto que formou a Lua pode ter dado início à vida na Terra

Ciência

Cientistas detectam “batimentos cardíacos” da Terra sob solo africano

Ciência

Qual seria o melhor planeta para viver caso a Terra ficasse inabitável

O processo ocorre devido às grandes quantidades de água armazenadas pelas represas, que acabam redistribuindo a massa do planeta de forma significativa, mudando a posição da crosta terrestre em relação ao manto.

“Qualquer movimento de massa dentro da Terra ou em sua superfície altera a orientação do eixo de rotação em relação à crosta, um processo denominado deriva polar verdadeira”, escreveram os autores no artigo.

Como as represas desequilibram a Terra

A Terra é composta por diferentes camadas: uma crosta sólida, que é a parte mais externa, e um manto viscoso, que fica abaixo dela.
A crosta pode deslizar lentamente sobre o manto e qualquer alteração significativa de peso pode provocar esse deslocamento.
Ao concentrar grandes quantidades de água em reservatório, as represas mudam a distribuição de massa da Terra, alterando a posição da crosta em relação ao manto. 
Esse processo impacta diretamente o eixo de rotação da Terra, fazendo com que os polos geográficos se desloquem, caracterizando um fenômeno conhecido como deriva polar verdadeira.

Estudos anteriores já haviam apontado algo parecido com a nova descoberta. Uma pesquisa publicada em março mostrou que o derretimento de geleiras causado pelas mudanças climáticas poderá deslocar os polos em até 27 metros até o final deste século. Já uma observação de 2023 concluiu que a retirada de água subterrânea entre 1993 e 2010 já causou um deslocamento de 80 cm no eixo polar.

Como foi feito o estudo

Os pesquisadores analisaram o impacto de 6.862 represas construídas entre 1835 e 2011, usando um banco de dados global sobre esse tipo de construção. As informações revelaram que o volume total de água já retido resultou em uma queda de 23 ml nos níveis globais do mar, o que seria suficiente para encher duas vezes o Grand Canyon, nos Estados Unidos.

Ao prenderem quantidades grandes de água, as represas diminuem o nível do mar

Através de cálculos e modelos computacionais, a equipe de pesquisa concluiu que a retenção de água causou um deslocamento de 1,1 metro na localização dos polos terrestres ao longo de 176 anos.

“Ao retermos água atrás de represas, isso não só remove água dos oceanos, levando a uma queda global do nível do mar, como também distribui a massa de forma diferente ao redor do mundo”, revela a autora principal do estudo, Natasha Valencic, estudante da Universidade de Harvard, em comunicado.

Mais pra lá do que pra cá

Durante a pesquisa, os cientistas identificaram que houve duas fases de deslocamentos dos polos: de 1835 a 1954, a construção de grandes represas na América do Norte e Europa moveu o polo norte 20 cm em direção a 103º do meridiano leste – linha imaginária que atravessa a Rússia, Mongólia e China; de 1954 a 2011, a presença de grandes reservatórios se intensificou na África Oriental e na Ásia, adicionando peso no lado oposto do globo e levando polo norte a migrar 57 cm em direção a 117º do meridiano oeste – região ligada ao oeste da América do Norte e Pacífico Sul.

Os pesquisadores ressaltam que o deslocamento dos polos em si tem efeito pequeno sobre os processos naturais da Terra. Por outro lado, o impacto no nível do mar é significativo. No século 20, o nível aquático dos mares subiu de 12 a 17 cm, porém um quarto dessa água está armazenada nas represas. Dependendo da localização geográfica, as barragens podem reduzir ou alterar os efeitos da elevação do nível do mar.

Por fim, os pesquisadores defendem que o fenômeno causado pela represas deve ser levado em conta em modelos climáticos e em projeções dos níveis do mar. “Precisamos considerar, porque essas mudanças podem ser muito grandes e significativas”, diz Natasha.

Siga a editoria de Saúde e Ciência no Instagram e fique por dentro de tudo sobre o assunto!