Arqueólogos acham “canivete” feito com ossos de leão por neandertais

Arqueólogos descobriram na gruta de Scladina, na Bélgica, um artefato similar a um “canivete suíço” pré-histórico, datado de cerca de 130 mil anos atrás. Em um único osso da tíbia de um leão-das-cavernas (Panthera spelaea), neandertais criaram pelo menos quatro ferramentas distintas.

A análise publicada na revista Scientific Reports no início de julho revelou que o osso foi moldado intencionalmente — com polimentos e fraturas direcionadas. Ele foi empregado primeiro como ferramenta intermediária e depois reutilizado como retocador, utilizado para afiar outras ferramentas.

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A descoberta representa a evidência mais antiga conhecida de um utensílio multiuso esculpido em osso de um grande predador, destacando a inteligência e adaptabilidade dos neandertais. Os pesquisadores sugerem que os homens escolheram especificamente a tíbia do leão-das-cavernas devido à sua resistência e forma, ideal para várias tarefas manuais.

As semelhanças entre a técnica desta ferramenta e as encontradas em ossos de urso na mesma caverna indicam que não havia uma distinção simbólica entre os animais, e sim uma escolha puramente funcional.

Os pesquisadores sugerem que os neandertais escolheram especificamente a tíbia do leão-das-cavernas devido à resistência do osso e a forma, ideal para várias tarefas manuais

Até o momento, ainda não está totalmente claro para qual finalidade específica cada fragmento foi usado, mas presume-se que incluam perfuração, entalhe, raspagem e retocagem de artefatos de pedra. Essa versatilidade reforça a ideia de que os neandertais possuíam sofisticados conhecimentos técnicos, utilizavam recursos de forma cuidadosa e planejavam suas estratégias de uso de materiais.

Além disso, a descoberta aprofunda nossa compreensão da relação entre neandertais e grandes felinos daquela era. Embora se soubesse que eles caçavam e consumiam esses animais, essa é a primeira evidência concreta de que também aproveitavam seus ossos para fabricar ferramentas.

O estudo, conduzido por Grégory Abrams e colegas, continua em andamento. Futuras comparações com achados em outros sítios neandertais podem ajudar a entender se o uso de ossos carnívoros como matéria-prima era uma prática comum entre esses hominídeos.

O artefato descoberto em Scladina não só desloca a linha do tempo do uso de ferramentas multiuso entre os neandertais, como também oferece uma visão mais vívida de sua capacidade de inovar, aproveitar recursos disponíveis e planejar usos múltiplos de um único objeto.

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