Cães sentem ciúmes? Entenda mais sobre esse comportamento animal

Não há sensação melhor do que ser recebido com entusiasmo pelo seu fiel companheiro de quatro patas após um longo dia. Eles nos olham como se estivessem esperando ansiosamente pela nossa chegada – e, quando direcionamos atenção a outra pessoa ou animal, parece até que demonstram um leve incômodo. Mas será que esse comportamento é mesmo sinal de que cães sentem ciúmes?

Para compreender o que realmente acontece na mente dos cães quando demonstram comportamentos como possessividade ou incômodo, reunimos dados baseados em estudos científicos que investigam emoções complexas nos animais de estimação, com foco especial na sensação que muitos interpretam como ciúmes. Confira!

Cães sentem ciúmes? O que a ciência tem a dizer sobre o comportamento dos pets

Pesquisas indicam que cães demonstram incômodo quando veem seus tutores interagindo com outros animais/Shutterstock_Edoma

Cães sentem ciúmes, e isso não é apenas uma impressão dos tutores. Pesquisas conduzidas pela psicóloga Christine Harris, da Universidade da Califórnia, em San Diego, revelam que os cães demonstram comportamentos claros de ciúmes quando percebem que sua atenção está sendo desviada para outro animal ou objeto com aparência semelhante a um cão.

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O estudo em questão usou 36 cães, e os pesquisadores observaram que os pets reagiam com mais intensidade quando seus tutores interagiam com um cachorro de pelúcia, em comparação com objetos neutros como livros ou baldes.

Essas reações incluíam empurrar o tutor, latir, rosnar e até tentar se interpor entre o tutor e o “rival”. Segundo Harris, esse comportamento pode ser considerado uma forma de “protociúme”, uma emoção primitiva que evoluiu para proteger vínculos sociais importantes. Dessa forma, a pesquisa sugere que os cães não apenas buscam atenção, mas reagem à ameaça percebida de perder um relacionamento valioso.

Sobretudo, a base biológica para essas emoções está no sistema límbico, estrutura cerebral compartilhada entre humanos e outros mamíferos. Segundo o Dr. Marc Bekoff, professor emérito de Ecologia e Biologia Evolutiva da Universidade do Colorado ao site Animals Around The Globe, os mesmos circuitos neurais que processam emoções humanas também estão presentes nos cães, o que reforça a ideia de que eles vivenciam sentimentos genuínos, ainda que em formas menos complexas.

Os ciúmes nos cães é real ou apenas uma interpretação humana?

Cães também reagem quando a atenção dos tutores é dividida/Shutterstock_Alena Ozerova

Embora estudos anteriores indiquem que cães sentem ciúmes, uma pesquisa mais recente da Universidade da Califórnia, publicada no periódico Proceedings of the Royal Society B, sugere que essa interpretação pode ser precipitada.

Segundo o pesquisador Oded Ritov, os comportamentos observados em animais, como frustração ao receber uma recompensa inferior, podem não refletir ciúmes reais, mas sim decepção diante de expectativas não atendidas.

A pesquisa analisou mais de 60 mil observações de 18 espécies e concluiu que, se os animais sentem algo parecido com ciúmes, esse sentimento é muito mais fraco e específico do que o que ocorre entre humanos. Por exemplo, macacos-pregos que rejeitam pepinos ao verem outros receberem uvas podem estar reagindo não à desigualdade, mas ao fato de não receberem o que esperavam – mesmo quando não há outro animal presente.

Dessa forma, essa abordagem contrasta com estudos menores que associam comportamentos possessivos ou competitivos à emoção de ciúmes. Ritov destaca que a aversão à desigualdade observada em animais pode ser confundida com ciúmes, mas não há evidência suficiente para afirmar que eles vivenciam essa emoção da mesma forma que os humanos.

Quando o carinho muda de foco, os cães podem mostrar que querem de volta o centro das atenções/Shutterstock_Iryna Kalamurza

Contudo, vale lembrar que a abordagem de Oded Ritov, da Universidade da Califórnia, se concentra em análises comportamentais amplas envolvendo diversas espécies, com foco em reações à desigualdade e frustração diante de recompensas, sem envolver diretamente a relação afetiva entre animal e tutor.

 Já a pesquisa conduzida por Christine Harris é experimental e aplicada especificamente a cães domésticos em contextos de convivência com seus tutores, avaliando manifestações possessivas diante da atenção direcionada a outros seres. Por isso, os métodos divergem tanto na estrutura quanto no objetivo, o que justifica interpretações distintas sobre a existência de ciúmes em animais.

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