Um novo estudo publicado nesta quarta-feira (16/7) na revista Proceedings of the Royal Society B revelou que quatro ilhas tropicais isoladas do Atlântico — São Pedro e São Paulo (Brasil), Ascensão e Santa Helena (territórios britânicos) — abrigam 44 espécies de peixes recifais que não existem em nenhum outro lugar do planeta.
Localizadas ao longo da Dorsal Mesoatlântica, as ilhas funcionam como verdadeiros refúgios de biodiversidade marinha. A descoberta foi feita por pesquisadores das universidades federais de Santa Catarina (UFSC), do Rio de Janeiro (UFRJ), da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Técnica da Dinamarca.
Os cientistas analisaram a distribuição e características de 1.637 espécies de peixes recifais do Atlântico, além de investigarem rotas evolutivas e padrões de dispersão de 88 espécies presentes na região, com base em dados genéticos e filogenéticos.
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O trabalho indica que a maioria das espécies não endêmicas da região, cerca de 70%, tem origem no Atlântico Oeste, especialmente nas águas brasileiras e do Caribe. Mas, entre os peixes que só existem nessas ilhas, mais de um terço pode ter vindo do Atlântico Leste, enquanto 11% têm origem ainda mais distante, no Oceano Índico.
Espécies mais antigas que as próprias ilhas
Os pesquisadores se depararam com um achado curioso. Duas espécies endêmicas, a Scartella nuchifilis e Thalassoma ascensionis, parecem ser mais antigas do que a própria ilha de Ascensão, onde atualmente vivem.
Isso sugere que essas espécies sobreviveram mesmo com mudanças no ambiente ao longo de milhões de anos. Uma das hipóteses é que montes submersos entre Ascensão e Santa Helena, aliados às variações no nível do mar, tenham permitido a persistência dessas populações isoladas.
O estudo também investigou as características ecológicas que favorecem a presença desses peixes em ilhas tão remotas.
Em comparação com outros peixes recifais, as espécies da Dorsal Mesoatlântica tendem a ser maiores, alcançar profundidades mais elevadas e apresentar estratégias que aumentam suas chances de dispersão, como ovos pelágicos, que permanecem semanas flutuando na água, além da habilidade de se locomover aderidas a algas, troncos ou outros materiais carregados pelas correntes marinhas.
“Ilhas remotas como essas são hotspots de endemismo e nos ajudam a entender como a vida marinha se espalha e se adapta ao longo do tempo. Mas também são ecossistemas vulneráveis – e cada espécie única perdida é uma peça insubstituível do quebra-cabeça evolutivo”, afirma Isadora Cord, pesquisadora da UFSC e principal autora do estudo, em comunicado.
Para o professor Sergio Floeter, também da UFSC e coautor do artigo, o trabalho abre caminho para novas pesquisas. “Os ambientes recifais mesofóticos dessas ilhas, entre 80 e 120 metros de profundidade, ainda são pouco explorados. Como estão fora do alcance do mergulho científico convencional, podem esconder espécies e padrões ecológicos que ainda desconhecemos”, destaca.
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