Tomografia e exames de imagem causam câncer? Entenda a polêmica

Uma descoberta preocupante vem ganhando espaço nos noticiários: um estudo da Universidade da Califórnia em São Francisco (UCSF) sugere que o uso excessivo de tomografias pode estar ligado a até 5% dos casos anuais de câncer. O dado acende um alerta sobre os riscos da exposição frequente à radiação presente no exame, e levanta uma dúvida crucial: afinal, tomografia computadorizada causa câncer?

Embora o estudo tenha causado preocupação, especialistas alertam para diversas ressalvas quanto às suas conclusões. Por isso, reunimos os principais pontos levantados por profissionais da área para analisar o que é cientificamente válido, e o que exige cautela na interpretação dos dados.

É verdade que exames de imagem, como tomografias, podem causar câncer?

Estudo na Califórnia aponta risco de câncer em exames de tomografia. Accuray/Unsplash

O estudo da Universidade da Califórnia em São Francisco (UCSF) gerou grande repercussão ao estimar que até 5% dos casos de câncer nos EUA poderiam estar ligados ao uso excessivo de tomografias computadorizadas.

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O levantamento feito com mais de 93 milhões de tomografias em 62 milhões de pacientes nos Estados Unidos revelou que a exposição à radiação ionizante desses exames pode trazer riscos reais à saúde. Ao calcular as doses de radiação aplicadas, os pesquisadores observaram que mesmo pequenos riscos de câncer se tornam significativos diante do alto número de exames realizados anualmente.

Segundo o estudo, cerca de 103 mil casos de câncer podem surgir devido à radiação das tomografias feitas em apenas um ano, representando até 5% dos novos diagnósticos anuais de câncer.

Esse índice foi comparado ao impacto de fatores como alcoolismo e obesidade, sugerindo que, embora a tomografia seja uma ferramenta essencial na medicina, seu uso deve ser avaliado com cautela para evitar consequências à saúde pública. No entanto, especialistas têm feito ressalvas importantes sobre essa conclusão.

Por que especialistas estão questionando a conclusão desse estudo?

Bebês são os mais vulneráveis à radiação de tomografias computadorizadas/Shutterstock_Svitlana Hulko

Apesar da repercussão, o estudo da Universidade da Califórnia em São Francisco enfrenta críticas relevantes da comunidade médica. Um dos principais pontos é a ausência de grupo de controle, ou seja, não houve comparação com pessoas que nunca realizaram tomografias, o que compromete a precisão das estimativas.

Além disso, os pesquisadores basearam seus cálculos de risco em dados de sobreviventes dos bombardeios de Hiroshima e Nagasaki, que foram expostos a doses agudas e únicas de radiação, muito superiores às doses fracionadas e controladas usadas em tomografias computadorizadas.

Essa comparação é considerada inadequada por muitos especialistas, já que os contextos são completamente distintos.

Especialistas questionam estudo sobre o risco de câncer em tomografias/Shutterstock_
Andrew Angelov

Diversas entidades médicas, como o Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR) e organizações nos Estados Unidos, têm se manifestado em defesa do uso responsável da tomografia. Eles destacam que o exame é essencial para diagnósticos precisos e que os riscos devem ser avaliados com base em evidências clínicas reais, não apenas projeções estatísticas.

Segundo posicionamento do CBR, o modelo adotado no estudo parte da suposição de que qualquer exposição à radiação (por menor que seja) eleva proporcionalmente o risco de câncer. No entanto, essa hipótese é alvo de críticas, uma vez que se trata das doses baixas e fracionadas, comuns na maioria das tomografias realizadas atualmente.

Além disso, o CBR ressalta que os resultados do estudo não foram obtidos por meio de observações clínicas diretas, mas sim por modelagens estatísticas e projeções teóricas, o que levanta dúvidas sobre sua aplicabilidade na prática médica cotidiana.

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